domingo, 25 de abril de 2010

2. A PONTE SOBRE O ABISMO


O homem foi, originalmente, dotado de faculdades nobres e de uma mente bem equilibrada. Ele era perfeito no seu ser e estava em harmonia com Deus. Os seus pensamentos eram puros e as suas aspirações santas. Mas, pela desobediência, as suas faculdades foram pervertidas e o seu egoísmo tomou o lugar do amor. A sua natureza tornou-se tão fraca pela transgressão que lhe era impossível, com a sua própria força, resistir ao poder do Mal. Tornou-se cativo de Satanás, e assim teria permanecido para sempre, se Deus não se tivesse especialmente interposto. Era propósito do tentador frustrar o plano divino na criação do homem e encher a Terra de dor e desolação. E ele iria apontar para todo este mal como resultado da obra de Deus em criar o homem.

No seu estado sem pecado, o homem mantinha uma feliz comunhão com Aquele "em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência." Colossences 2:3. Mas, depois de pecar, ele já não podia encontrar alegria na santidade, e pensou em esconder-se da presença de Deus. É esta a condição do coração não renovado. Não está em harmonia com Deus e não encontra alegria na comunhão com Ele. O pecador não podia ser feliz na presença de Deus; ele retrair-se-ia da companhia de seres santos. Se lhe fosse permitido entrar no Céu, não encontraria aí alegria alguma. O espírito de amor altruísta que aí reina - cada coração respondendo ao coração de Infinito Amor - não tocaria nenhuma corda de resposta na sua alma. Os seus pensamentos, interesses e motivos seriam estranhos aos que actuam ali nos habitantes sem pecado. Ele seria uma nota discordante na melodia do Céu. O Céu seria para ele um lugar de tortura, ele ansiaria esconder-se d'Aquele que é a luz do Céu e o centro da sua alegria. Não é um decreto arbitrário da parte de Deus que exclui os maus do Céu; eles são excluídos pela sua própria inaptidão para o companheirismo que aí existe. A glória de Deus seria para eles um fogo consumidor. Eles dariam as boas-vindas à destruição, para que assim se pudessem esconder da face d'Aquele que morreu para os redimir.

É impossível para nós, por nós mesmos, escapar da cova do pecado na qual estamos afundados. O nosso coração é mau e não o podemos mudar. "Quem do imundo tirará o puro? Ninguém." Job 14:4. "A mente carnal está em inimizade contra Deus, pois não está sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode estar." Romanos 8:7. A educação, a cultura, o exercício da vontade, o esforço humano, todos têm a sua própria esfera, mas são impotentes. Eles podem produzir um comportamento exterior correcto mas não podem mudar o coração; não podem purificar as fontes da vida. É preciso haver um poder a operar do interior, uma nova vida de cima, antes do homem poder ser mudado do pecado para a santidade. Esse poder é Cristo. Unicamente a Sua graça pode despertar as faculdades mortas da pessoa e atraí-la para Deus, para a santidade.

O Salvador disse: "A não ser que o homem nasça de cima", a não ser que receba um novo coração, novos desejos, propósitos e motivos, conducentes a uma nova vida, "ele não pode ver o reino de Deus." João 3:3. A ideia de que é apenas necessário desenvolver o bem que existe no homem, por natureza, é um engano fatal. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." I Coríntios 2:14. "Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo." João 3:7. De Cristo está escrito: "N´Ele estava a vida, e a vida era a luz dos homens" (João 1:4) - o único "nome, debaixo do céu dado entre os homens, pelo qual devemos ser salvos." Actos 4:12.

Não é suficiente perceber a amorosa amabilidade de Deus, contemplar a benevolência, a ternura paternal do Seu carácter. Não é suficiente discernir a sabedoria e a justiça da Sua Lei, ver que está fundada sobre o princípio eterno do amor. O apóstolo Paulo viu tudo isso quando exclamou: "Consinto com a lei que é boa." "A lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom." Mas ele acrescentou, na amargura e no desespero da sua alma angustiada: "Eu sou carnal, vendido sob o pecado," Romanos 7:16, 12, 14. Ele ansiava pela pureza e justiça, que por si mesmo não conseguia alcançar, e clamou: "Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" Romanos 7:24. É este o clamor que, de corações sobrecarregados em todas as terras e em todas as épocas, tem subido ao Céu. Para todos, há apenas uma resposta: "Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29.

O Espírito de Deus tem procurado ilustrar esta verdade de muitas maneiras e torná-la clara às almas que anseiam libertar-se da carga de culpa. Quando, após o seu pecado, ao enganar Esáu, Jacob fugiu da casa do pai, ele sentiu-se carregado com um sentimento de culpa. Estava sozinho, proscrito, separado de tudo quanto lhe tinha tornado querida a vida. O pensamento que acima de todos os outros lhe aflorava à mente era o receio de que o seu pecado o tivesse separado de Deus, que tivesse sido abandonado pelo Céu. Com tristeza, deitou-se para descansar na terra nua; à sua volta unicamente os montes solitários e, acima, os céus brilhantes com estrelas. Enquanto dormia, uma luz estranha irrompeu na sua visão; e eis que, da planície onde estava deitado, uma ampla escada parecia conduzir para cima até aos próprios portões do Céu, e sobre ela havia anjos de Deus que subiam e desciam; entretanto, da glória acima, a voz divina foi ouvida numa mensagem de conforto e esperança. Assim foi dado a conhecer aquilo que satisfaria a necessidade e o anseio do seu coração - um Salvador. Com alegria e gratidão viu revelado o caminho pelo qual ele, pecador, podia ser restaurado à comunhão com Deus. A escada mística do seu sonho representava Jesus, o único meio de comunicação entre Deus e o homem.

Esta é a mesma figura à qual Se referiu Cristo na sua conversa com Natanael, quando disse. "Verás o céu aberto, e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do homem." João 1:51. Na apostasia, o homem alienou-se de Deus; a terra foi separada do Céu. Através do fosso que fica no meio, não podia haver qualquer comunicação. Mas, mediante Cristo, a Terra é de novo ligada com o Céu. Com os seus próprios méritos, Cristo transpôs o fosso que o pecado criara, de maneira que os anjos ministradores podem manter comunhão com o homem. Cristo une o homem caído, na sua fraqueza e incapacidade, com a Fonte de poder infinito.

Mas são vãos os sonhos de progresso dos homens, todos os esforços para o erguimento da humanidade, se eles negligenciarem a única Fonte de esperança e ajuda para a raça caída. "Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito" (Tiago1:17) vem de Deus. Não há verdadeira excelência de carácter fora d'Ele. E o único caminho para Deus é Cristo. Ele diz. "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim." João 14:6.

O coração de Deus anseia pelos Seus filhos terrestres com um amor mais forte do que a morte. Ao dar o Seu Filho, Ele derramou sobre nós todo o Céu numa única dádiva. A vida, a morte e a intercessão do Salvador, o ministério dos anjos, a defesa do Espírito, o Pai a trabalhar acima e por intermédio de todos, o interesse incessante dos seres celestiais - tudo se empenha a favor da redenção do homem.

Contemplemos o surpreendente sacrifício que foi feito por nós! Tentemos apreciar o trabalho e a energia que o Céu está a dispender para reclamar os perdidos e trazê-los de volta para a casa do Pai. Maiores motivos, ou agências mais poderosas, nunca poderiam ter sido postos em operação; as extraordinárias recompensas pelo procedimento correcto, as alegrias do Céu, do convívio com os anjos, da comunhão e amor de Deus e do Seu Filho, a elevação e extensão de todas as nossas faculdades por todas as eras da eternidade - não serão poderosos incentivos e encorajamentos para nos incitar a prestar um amorável serviço, de todo o coração, ao nosso Criador e Redentor?

E, por outro lado, os juízos de Deus pronunciados contra o pecado, a retribuição inevitável, a degradação do nosso carácter e a destruição final, são-nos apresentados na Palavra de Deus para nos advertir contra o prestarmos serviço a Satanás.

Não deveríamos contemplar a misericórdia de Deus? Que mais poderia Ele ter feito?

Coloquemo-nos a nós mesmos numa relação correcta para com Aquele que nos amou com um amor surpreendente. Apropriemo-nos dos meios providos para nós a fim de sermos transformados à Sua semelhança e sermos restabelecidos ao companheirismo com os anjos ministradores, à harmonia e comunhão com o Pai e o Filho.


«É  PRECISO  HAVER  UM  PODER  A  OPERAR  DO  INTERIOR,
UMA  NOVA  VIDA  DE  CIMA.
ESSE  PODER  É  CRISTO.»


«O  CORAÇÃO  DE  DEUS  ANSEIA  PELOS  SEUS  FILHOS  TERRESTRES
 COM  UM  AMOR  MAIS  FORTE  DO  QUE  A  MORTE.»

1. O AMOR DE DEUS


Tanto a Natureza como a Revelação testificam do amor de Deus. O nosso Pai Celeste é a fonte da vida, sabedoria e alegria. Olhem para as coisas maravilhosas e belas da Natureza.
Considerem as suas maravilhosas adaptações às necessidades e felicidade, não só dos seres humanos, mas também de todas as criaturas vivas. A luz solar e a chuva, que alegram e refrescam a terra, os montes, os mares e as planícies, tudo nos fala do amor do Criador. É Deus quem supre as necessidades diárias de todas as Suas criaturas. Nas belas palavras do salmista:

"Os olhos de todos esperam em Ti, e Tu lhes dás o seu alimento a seu tempo. Abres a Tua mão, e satisfazes os desejos de todos os viventes." Salmos 145:15, 16.

Deus criou o homem perfeitamente santo e feliz; e a bela Terra quando saiu das mãos do Criador, não revelava vestígio algum de decadência ou sombra de maldição. É a transgressão da lei de Deus - a lei do amor - que tem acarretado a dor e a morte. Todavia, mesmo no meio do sofrimento que resulta do pecado, o amor de Deus é revelado. Está escrito que Deus amaldiçoou o solo por amor ao homem (Génesis 3:17). Os cardos e espinhos - as dificuldades e provações que tornam a sua vida árdua e inquieta - foram determinados para o seu bem, como parte do treino necessário, no plano de Deus, para o seu erguimento da ruína e degradação que o pecado ocasionou. O mundo, embora caído, não é só tristeza e miséria. Na própria Natureza existem mensagens de esperança e conforto. Há flores sobre os cardos, e os espinhos são cobertos com rosas.

"Deus é amor" está escrito sobre cada rebento que desabrocha, sobre cada haste de erva que cresce. Os amorosos passarinhos, enchendo os ares de música com os seus alegres cantos; as delicadas flores, de cores variadas, que, na sua perfeição, perfumam o ar; as altas árvores da floresta com a sua rica folhagem de verde vivo - todos testificam do cuidado solícito, paternal do nosso Deus e do Seu desejo de fazer os Seus filhos felizes.

A Palavra de Deus revela o Seu carácter. Ele próprio declarou o Seu infinito amor e compaixão. Quando Moisés orou: "Mostra-me a Tua glória", o Senhor respondeu: "Eu farei passar diante de ti toda a Minha bondade." Êxodo 33:18, 19. Esta é a Sua glória. O Senhor passou diante de Moisés e proclamou: "O Senhor, o Senhor Deus, misericordioso e gracioso, longânimo e abundante em bondade e verdade, mantendo a misericórdia em milhares, perdoando a iniquidade, a transgressão e o pecado." Êxodo 34:6, 7. Ele "é tardio em irar-se e de grande amabilidade" (Jonas 4:2), "porque Ele Se deleita na misericórdia" (Miqueias 7:18).

Deus tem ligado o nosso coração a Ele por inúmeros sinais no céu e na terra. Mediante as coisas da Natureza, e os mais profundos e ternos laços terrestres que o coração humano possa conhecer, Ele tem procurado revelar-Se a nós. Todavia, tudo isso pode apenas representar imperfeitamente o Seu amor. Embora todas estas evidências tenham sido dadas, o inimigo do Bem cegou a mente dos homens, de maneira que eles olhassem para Deus com temor; O julgassem como severo e imperdoador.

Satanás levou os homens a conhecerem Deus como um ser cujo atributo principal é a justiça implacável - credor duro e vingativo. Ele pintou o Criador como um ser que observa com olhos ciumentos para discernir os erros e as falhas dos homens, para que os possa ferir com os Seus juízos. Foi para remover esta sombra escura, ao revelar ao mundo o infinito amor de Deus, que Jesus veio viver entre os homens.

O Filho de Deus veio do Céu para manifestar o Pai. "Deus nunca foi visto por alguém; o Filho unigénito, que está no seio do Pai, esse O fez conhecer". João 1:18. "Ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho O quiser revelar". Mateus 11:27. Quando um dos discípulos fez o pedido: "Mostra-nos o Pai", Jesus respondeu: "Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe? Quem Me vê a Mim vê o Pai; e como dizes tu: mostra-nos o Pai?" João 14:8, 9.

Ao descrever a Sua missão terrestre, Jesus disse: o Senhor "Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos". Lucas 4:18. Este era o Seu trabalho. Ele ia por todo o lado fazendo o bem e curando todos os oprimidos de Satanás. Havia aldeias inteiras onde não se ouvia um único gemido de dor em nenhuma casa, pois Ele tinha passado por elas e curara todos os seus doentes. O Seu trabalho dava evidência da Sua unção divina. Amor, misericórdia e compaixão eram revelados em cada acto da Sua vida; o Seu coração enchia-Se de terna simpatia para com os filhos dos homens. Ele tomou a natureza do homem, a fim de poder compreender as necessidades do homem. Os mais pobres e os mais humildes não receavam aproximar-se d'Ele. Até mesmo as crianças pequenas eram atraídas para Ele. Elas gostavam de subir para os Seus joelhos e contemplar a Sua face pensativa e bondosa.

Jesus não suprimiu uma única palavra da verdade, mas proferia-a sempre com amor. Ele exercia o maior tacto, e ponderada e amável atenção, nas Suas relações com as pessoas. Ele nunca foi rude, nunca disse desnecessariamente uma palavra severa, nunca produziu dor desnecessária a uma alma sensível. Ele não censurava a fraqueza humana. Ele dizia a verdade, mas sempre com amor. Ele denunciava a hipocrisia, a descrença e o mal; mas havia lágrimas na Sua voz enquanto proferia as Suas censuras severas. Chorou sobre Jerusalém, cidade que Ele amava, que recusou recebê-l'O, ao Salvador, mas considerava os seus habitantes com terna simpatia. A Sua vida foi de abnegação e solícita consideração pelos outros. Cada pessoa era preciosa aos Seus olhos. Embora Se conduzisse sempre com dignidade divina, baixava-Se com o olhar mais terno para cada membro da família de Deus. Em todos os homens Ele via seres caídos, sendo a Sua missão salvá-los.

É assim o carácter de Deus revelado na vida de Cristo. Este é o carácter de Deus. É do coração do Pai que as correntes da compaixão divina, manifestadas em Cristo, fluem para os filhos dos homens. Jesus, o terno, compassivo Salvador, era Deus "manifesto na carne". I Timóteo 3:16.

Foi para nos redimir que Jesus viveu, sofreu e morreu. Ele tornou-Se "um Homem de Dores", para que pudéssemos ser participantes da alegria eterna. Deus permitiu ao Seu amado Filho, cheio de graça e verdade, vir de um mundo de indescritível glória, a um mundo manchado e afligido pelo pecado, escurecido com a sombra da morte e da maldição. Ele permitiu-Lhe deixar o seio do Seu amor, a adoração dos anjos, para sofrer vergonha, insulto, humilhação, ódio e morte. "O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele e pelas Suas pisaduras fomos sarados." Isaías 53:5. Contemplem-n'O no deserto, no Getsémani, sobre a cruz! O imaculado Filho de Deus tomou sobre Si mesmo o fardo do pecado. Aquele que tinha sido um com Deus, sentiu no Seu íntimo a terrível separação que o pecado faz entre Deus e o homem. Isto fez brotar dos Seus lábios o angustiante clamor: "Deus Meu, Deus Meu, porque Me desamparaste?" Mateus 27:46. Foi o fardo do pecado, o sentimento da sua terrível enormidade, da separação que ele causa entre a pessoa e Deus - foi isto que despedaçou o coração do Filho de Deus.

Mas este grande sacrifício não foi feito a fim de criar, no coração do Pai, amor pelo homem, nem para O tornar disposto a salvar. Não, não! "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigénito." João 3:16. O Pai ama-nos, não por causa da grande intercessão, mas Ele providenciou a intercessão porque nos ama. Cristo foi o meio através do qual Ele pôde derramar o Seu infinito amor sobre um mundo caído. "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo." II Coríntios 5:19. Deus sofreu com o Seu Filho. Na agonia do Getsémani, na morte do Calvário, o coração de Infinito Amor pagou o preço da nossa redenção.

Jesus disse: "Por isto o Pai Me ama, porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la." João 10:17. Isto é, "o Meu Pai tem-vos amado de tal maneira que Ele até Me ama mais por dar a Minha vida para vos redimir. Ao tornar-Me o vosso Substituto e Fiador, ao dar a Minha vida para tomar as vossas fraquezas, as vossas transgressões, sou querido do Meu pai; pois pelo Meu sacrifício, Deus pode ser justo, e todavia ser justificador daquele que crê em Jesus."

Ninguém senão o Filho de Deus podia realizar a nossa redenção; pois só Aquele que esteve no seio do Pai O podia revelar. Unicamente Aquele que conhecia a altura e a profundidade do amor de Deus podia manifestar esse amor. Apenas o infinito sacrifício feito por Cristo em favor do homem caído podia expressar o amor do Pai para com a humanidade perdida.

"Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho Unigénito." Ele deu-O não só para viver entre os homens, para carregar os seus pecados, e morrer em sacrifício por eles. Ele deu-O à raça caída. Cristo devia identificar-Se com os interesses e necessidades da humanidade. Ele, que era um com Deus, ligou-Se com os filhos dos homens por laços que não devem nunca quebrar-se. Jesus "não Se envergonha de lhes chamar irmãos." Hebreus 2:11. Ele é o nosso Sacrifício, o nosso Advogado, o nosso Irmão; portanto, a nossa forma humana perante o trono do Pai, e através das eras eternas é um com a raça que Ele - o Filho do homem - redimiu. E tudo isto para que o homem pudesse ser erguido da ruína e degradação do pecado, para que pudesse reflectir o amor de Deus e participar da alegria da santidade.

O preço pago pela nossa redenção, o infinito sacrifício do nosso Pai Celeste em dar o Seu Filho para morrer por nós, deveria dar-nos elevadas concepções daquilo que podemos tornar-nos mediante Cristo. Depois do inspirado apóstolo João ter percebido a altura, a profundidade e a largura do amor do Pai para com a humanidade, ele encheu-se de adoração e reverência; e, incapaz de encontrar linguagem adequada para expressar a grandeza e ternura deste amor, apelou ao mundo para O contemplar. "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." I João 3:1. Que valor isto coloca sobre o homem! Pela transgressão, os filhos do homem tornaram-se súbditos de Satanás. Pela fé no sacrifício de expiação de Cristo, os filhos de Adão, podem tornar-se filhos de Deus. Ao tomar a natureza humana, Cristo eleva a humanidade. Homens caídos são colocados onde, pela união com Cristo, eles se podem tornar, na verdade, dignos do nome "filhos de Deus".

Este amor não tem paralelo. Filhos do Rei Celestial! Preciosa promessa! Tema para a mais profunda meditação! O incomparável amor de Deus por um mundo que não O amava! O pensamento tem um poder subjugante sobre a pessoa e submete a mente cativa à vontade de Deus. Quanto mais estudarmos o carácter divino à luz da cruz, mais veremos misericórdia, ternura e perdão unidos com equidade e justiça, e mais claramente discerniremos evidências inumeráveis de um amor que é infinito e de uma terna compaixão que ultrapassa a simpatia e o amor de uma mãe ansiosa por um filho desviado.


«HÁ  FLORES  SOBRE  OS CARDOS,
E  OS  ESPINHOS  SÃO  COBERTOS  COM  ROSAS.»


«O  PAI  AMA-NOS,  NÃO  POR  CAUSA  DA  GRANDE  INTERCESSÃO,
MAS  ELE  PROVIDENCIOU  A  INTERCESSÃO  PORQUE  NOS  AMA.»


«ELE  TORNOU-SE  "UM  HOMEM  DE  DORES",
PARA  QUE  PUDÉSSEMOS  SER  PARTICIPANTES
DA  ALEGRIA  ETERNA.»