sexta-feira, 28 de maio de 2010

7. UMA NOVA PESSOA


"Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." II Coríntios 5:17.

Uma pessoa pode não ser capaz de dizer o tempo ou o lugar exactos, ou traçar toda a série de circunstâncias no processo da conversão; mas isto não prova que ela não esteja convertida. Cristo disse a Nicodemos: "O vento sopra onde quer e ouves a sua voz; não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito." João 3:8. Como o vento, que é invisível, mas os seus efeitos são claramente vistos e sentidos, assim é o Espírito de Deus no Seu trabalho no coração humano. Esse poder regenerador, que nenhum olho humano pode ver, gera uma nova vida na alma; cria um novo ser à imagem de Deus. Embora o trabalho do Espírito seja silencioso e imperceptível, os Seus efeitos são manifestos. Se o coração foi renovado pelo Espírito de Deus, a vida dará testemunho desse facto. Embora nada possamos fazer para mudar o nosso coração ou colocar-nos em harmonia com Deus; embora não devamos confiar, de modo nenhum, em nós mesmos ou nas nossas boas obras, a nossa vida revelará se a graça de Deus habita em nós. Será vista uma mudança no carácter, nos hábitos e nas actividades. O contraste será claro e decidido entre o que foi e o que é agora. O carácter é revelado, não por boas ou más acções ocasionais, mas pela tendência habitual das palavras e dos actos.

É verdade que pode haver um comportamento exterior correcto sem o poder renovador de Cristo. O amor da influência e o desejo de ser apreciado pelos outros pode produzir uma vida bem ordenada. O respeito próprio pode levar-nos a evitar a aparência do mal. Um coração egoísta pode realizar acções generosas. Por que meios, então, podemos determinar em que lado estamos?

A quem entregamos o nosso coração? Com quem estão os nossos pensamentos? De quem gostamos de falar? Quem tem as nossas mais calorosas afeições e as nossas melhores energias? Se somos de Cristo, os nossos pensamentos estão n'Ele, e os nossos mais nobres pensamentos serão acerca d'Ele. Tudo o que temos e somos está consagrado a Ele. Almejaremos revelar a Sua imagem, respirar o Seu Espírito, fazer a Sua vontade e agradar-Lhe em todas as coisas.

Aqueles que se tornam novas criaturas em Cristo Jesus produzirão os frutos do Espírito: "amor, alegria, paz, longanimidade, amabilidade, bondade, fé, mansidão, domínio próprio." Gálatas 5:22, 23. Eles não mais se modelam segundo os erros passados, mas pela fé do Filho de Deus seguirão nos Seus passos, reflectirão o Seu carácter e purificar-se-ão como Ele é puro. As coisas que outrora odiavam agora amam, e as coisas que outrora amavam agora odeiam. O orgulhoso e arrogante torna-se manso e humilde de coração. O leviano e o altivo tornam-se sérios e discretos. O bêbado torna-se sóbrio, e o devasso puro. Os costumes e as modas do mundo são postos de lado. Os cristãos buscarão não o "adorno exterior", mas "o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto." I Pedro 3:3, 4.

Não há evidência de arrependimento genuíno a não ser que se opere uma reforma. Se devolver o penhor, restituir o que tinha roubado, confessar os seus pecados, e amar Deus e os seus semelhantes, o pecador pode estar certo de que passou da morte para a vida.

Quando, como seres errantes e pecadores, vamos a Cristo e nos tornamos participantes da Sua graça perdoadora, brota amor no coração. Cada fardo é leve, pois o que Cristo impõe é fácil. O dever torna-se um deleite, e o sacrifício um prazer. A vereda que antes parecia envolvida em escuridão, torna-se clara com os raios do Sol da Justiça.

A amabilidade do carácter de Cristo será vista nos Seus seguidores. Era Seu deleite fazer a vontade de Deus. Amor a Deus, zelo pela Sua glória, era o poder dominante na vida do nosso Salvador. O amor embelezava e enobrecia todas as Suas acções. O amor é de Deus. O coração não consagrado não o pode originar ou produzir. Ele encontra-se somente no coração onde Jesus reina. "Nós O amamos a Ele, porque Ele nos amou primeiro." I João 4:19. No coração renovado pela graça divina, o amor é o princípio da acção. Ele modifica o carácter, governa os impulsos, controla as paixões, subjuga a inimizade e enobrece as afeições. Este amor, acariciado na alma, adoça a vida e derrama uma influência refinadora sobre todos ao redor.

Há dois erros contra os quais os filhos de Deus - particularmente aqueles que aceitaram recentemente confiar na Sua graça - precisam de se guardar de modo especial. O primeiro, já abordado, é o de olhar para as suas próprias obras, confiando em algo que possam fazer, para se colocarem em harmonia com Deus. Aquele que está a tentar tornar-se santo pelas suas próprias obras ao guardar a lei, está a tentar uma impossibilidade. Tudo o que o homem puder fazer sem Cristo está poluído com egoísmo e pecado. É somente a graça de Cristo, pela fé, que nos pode fazer santos.

O erro oposto e não menos perigoso é o de que a crença em Cristo desobriga os homens de guardar a lei de Deus; de que, uma vez que é somente pela fé que nos tornamos participantes da graça de Cristo, as nossas obras nada têm a ver com a nossa redenção.

Mas notem aqui que a obediência não é uma mera submissão exterior, mas um serviço de amor. A lei de Deus é uma expressão da Sua própria natureza; é uma incorporação do grande princípio de amor, e por conseguinte é o fundamento do Seu governo no Céu e na Terra. Se o nosso coração estiver renovado na semelhança de Deus, se o amor divino estiver implantado na alma, não será a lei de Deus cumprida na vida? Quando o princípio do amor está implantado no coração, quando o homem está renovado segundo a imagem d'Aquele que o criou, a promessa do novo concerto é cumprida: "Porei as Minhas leis nos seus corações, e as escreverei nas suas mentes." Hebreus 10:16. E se a lei estiver escrita no coração, não modelará ela a vida? A obediência - o serviço e a lealdade de amor - é o verdadeiro sinal do discipulado. Assim diz a Escritura: "Este é o amor de Deus; que guardemos os Seus mandamentos." "Aquele que diz: Eu conheço-O, e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade." I João 5:3; 2:4. Em vez de desobrigar o homem da obediência, é a fé, e somente a fé, que nos torna participantes da graça de Cristo, a qual nos capacita a prestar obediência.

Não ganhamos a salvação pela nossa obediência; pois a salvação é a dádiva gratuita de Deus, que deve ser recebida pela fé. Mas a obediência é o fruto da fé. "E bem sabeis que Ele Se manifestou para tirar os nossos pecados; e n'Ele não há pecado. Qualquer que permanece n'Ele não peca; qualquer que peca não O viu nem O conheceu." I João 3:5, 6. Aqui está o verdadeiro teste. Se permanecermos em Cristo, se o amor de Deus habitar em nós, os nossos sentimentos, pensamentos, propósitos e acções estarão em harmonia com a vontade de Deus, tal como está expressa nos preceitos da Sua santa lei. "Filhinhos, ninguém vos engane. Quem pratica a justiça é justo, assim como Ele é justo." I João 3:7. A justiça é definida pelo padrão da santa lei de Deus, tal como foi expressa nos dez preceitos dados no Sinai.

Aquela fé em Cristo que professa desobrigar os homens de obedecer a Deus, não é fé, mas presunção. "Pela graça sois salvos mediante a fé." Efésios 2:8. Mas "a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma." Tiago 2:17. Jesus disse a Seu respeito, antes de vir à Terra: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração." Salmos 40:8. E imediatamente antes de ascender, de novo, ao Céu, Ele declarou: "Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai, e permaneço no Seu amor." João 15:10. A Escritura diz: "E nisto sabemos que O conhecemos: se guardarmos os Seus mandamentos. ... Aquele que diz que está n'Ele, também deve andar como Ele andou." I João 2:3, 6. "Pois, também, Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas." I Pedro 2:21.

A condição de vida eterna é agora exactamente o que sempre tem sido - exactamente o que era no Paraíso antes da queda dos nossos primeiros pais - perfeita obediência à lei de Deus, perfeita justiça. Se a vida eterna fosse concedida com base em qualquer condição que não esta, então a felicidade de todo o Universo estaria em perigo. Seria aberto o caminho para o pecado ser imortalizado, com todo o seu cortejo de dor e miséria.

Era possível a Adão, antes da queda, formar um carácter justo pela obediência à lei de Deus. Mas ele fracassou nisto e, devido ao seu pecado, a nossa natureza é caída e não podemos tornar-nos a nós mesmos justos. Uma vez que somos pecadores, e não santos, não podemos obedecer perfeitamente à santa lei. Não temos justiça alguma em nós mesmos com a qual satisfazer os requisitos da lei de Deus. Mas Cristo criou um meio de escape para nós. Ele viveu na Terra no meio de provas e tentações, tal como as que temos de enfrentar. Ele viveu uma vida sem pecado. Ele morreu por nós, e agora oferece-Se para tomar os nossos pecados e dar-nos a Sua justiça. Se te deres a Ele, e O aceitares como teu Salvador, então, por mais pecaminosa que possa ter sido a tua vida, por Sua causa, tu és considerado justo. O carácter de Cristo toma o lugar do teu carácter, e tu és aceite perante Deus exactamente como se nunca tivesses pecado.

Mais do que isso, Cristo muda o coração. Ele habita no teu coração pela fé. Tu deves manter esta união com Cristo pela fé e a entrega contínua da tua vontade a Ele; e, enquanto fizeres isto, Ele operará em ti o querer e o efectuar segundo o Seu bom agrado. Deste modo, tu podes dizer: "A vida que agora vivo, na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim." Gálatas 2:20. Assim disse Jesus aos Seus discípulos: "Não sois vós quem falará, mas o Espírito do vosso Pai é que fala em vós." Mateus 10:20. Então, com Cristo a trabalhar em vós, manifestarão o mesmo espírito e farão as mesmas obras - obras de justiça e obediência.

Por conseguinte nós nada temos em nós mesmos de que nos vangloriar. Não temos qualquer base para exaltação própria. A nossa única base de esperança está na justiça de Cristo que nos é imputada, e na obra realizada pelo Seu Espírito, em e através de nós.

Quando falamos de fé, há uma distinção que se deve ter em mente. Há uma espécie de crença que é totalmente distinta da fé. A existência e o poder de Deus, a verdade da Sua palavra, são factos que nem mesmo Satanás e as suas hostes podem de coração negar. A Bíblia diz que "os demónios também crêem e estremecem" (Tiago 2:19); mas isto não é fé. Onde há, não somente uma crença na Palavra de Deus, mas uma submissão da vontade a Ele; onde o coração está rendido a Ele, as escolhas fixas n'Ele, há fé - fé que opera por amor e purifica a alma. Mediante esta fé, o coração é renovado à imagem de Deus. E o coração que, no seu estado não renovado, não está sujeito à lei de Deus, nem em verdade o pode estar, agora deleita-se nos Seus santos preceitos, exclamando com o salmista: "Oh! Qunto amo a Tua lei! É a minha meditaçao em todo o dia." Salmos 119:97. E a justiça da lei é cumprida em nós, "que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito." Romanos 8:1.

Há os que têm experimentado o amor perdoador de Cristo e que realmente desejam ser filhos de Deus; contudo, verificam que o seu carácter é imperfeito, a sua vida cheia de defeitos, e chegam a duvidar se o coração já foi renovado pelo Espírito Santo. A esses, gostaria de dizer: não recuem desesperados. Nós precisaremos de, frequentemente, nos prostrarmos e chorarmos aos pés de Jesus, por causa das nossas faltas e erros, mas não devemos ficar desencorajados. Mesmo que sejamos vencidos pelo inimigo, não somos lançados fora, nem abandonados ou rejeitados por Deus. Não! Cristo que está à mão direita de Deus, também faz intercessão por nós. Disse o amado João: "Estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo." I João2:1. E não se esqueçam das palavras de Cristo: "Pois o mesmo Pai vos ama." João 16:27. Ele deseja restaurar-nos n'Ele, para ver a Sua própria pureza e santidade reflectida em nós. E se nos rendermos completamente a Deus, Ele, que começou uma boa obra em nós, a levará avante até ao dia de Jesus Cristo. Orem mais fervorosamente; creiam mais plenamente. À medida que desconfiarmos do nosso próprio poder, confiaremos no poder do nosso Redentor, e louvaremos Aquele que é a "saúde do nosso rosto".

Quanto mais nos aproximarmos de Jesus, mais faltosos nos acharemos aos nossos próprios olhos; pois a nossa vida será mais clara, e as nossas imperfeições serão mais vistas em largo e distinto contraste com a Sua natureza perfeita. Isto é evidência de que os enganos de Satanás perderam o seu poder; de que a influência vivificadora do Espírito de Deus nos está a despertar.

Nenhum amor por Jesus, profundamente enraizado, pode habitar no coração que não reconhece a sua própria pecaminosidade. A pessoa que está transformada pela graça de Cristo admirará o Seu carácter divino; mas, se nós não vemos a nossoa própria deformidade moral, isto é evidência inegável de que não tivemos uma visão da beleza e excelência de Cristo.

Quanto menos coisas virmos dignas de apreço em nós, mais veremos a infinita pureza e amabilidade do nosso Salvador. Uma visão da nossa maldade impele-nos para Aquele que pode perdoar; e quando a pessoa, reconhecendo a sua incapacidade, faz esforços para se aproximar de Cristo, Ele revelar-Se-á em poder. Quanto mais o nosso senso de necessidade nos impelir para Ele e para a Palavra de Deus, mais intensas visões nós teremos do Seu carácter, e mais plenamente reflectiremos a Sua imagem.



«SE  O  CORAÇÃO  FOI  RENOVADO  PELO  ESPÍRITO  DE  DEUS,
A  VIDA  DARÁ  TESTEMUNHO  DESSE  FACTO.»


«NÃO  GANHAMOS  A  SALVAÇÃO  PELA  NOSSA  OBEDIÊNCIA;
POIS  A  SALVAÇÃO  É  A  DÁDIVA  GRATUITA  DE  DEUS,  QUE  DEVE  SER  RECEBIDA  PELA  FÉ.
MAS  A  OBEDIÊNCIA  É  O  FRUTO  DA  FÉ.»


«A  NOSSA  ÚNICA  BASE  DE  ESPERANÇA  ESTÁ  NA  JUSTIÇA  DE  CRISTO  QUE  NOS  É  IMPUTADA,
E  NA  OBRA  REALIZADA  PELO  SEU  ESPÍRITO,  EM  E  ATRAVÉS  DE  NÓS.»

sexta-feira, 21 de maio de 2010

6. PAZ MENTAL


À medida que a tua consciência é despertada pelo Espírito Santo, começas a perceber a maldade do pecado, o seu poder, a sua culpa, a sua dor; e olhas para ele com repugnância. Sentes que o pecado te tem separado de Deus, que és escravo do poder do Mal. Quanto mais lutas para lhe escapar, mais compreendes a tua incapacidade. Os teus motivos são impuros, o teu coração está sujo. Vês que a tua vida tem estado cheia de egoísmo e pecado. Anseias ser perdoado, purificado, libertado. Harmonia com Deus, semelhança com Ele - que podes fazer para as obter?

O que tu precisas é de paz - o perdão, a paz e o amor do Céu. O dinheiro não os pode comprar, o intelecto não os pode obter, a sabedoria não os pode alcançar; tu nunca podes esperar, pelos teus próprios esforços, consegui-los. Mas Deus oferece-tos como uma dádiva, "sem dinheiro e sem preço" (Isaías 55:1). São teus, basta estenderes a tua mão e agarrá-los. O Senhor diz: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã." Isaías 1:18. "E vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo." Ezequiel 36:26.

Confessaste os teus pecados e de coração os abandonaste. Decidiste dares-te a ti mesmo a Deus. Agora vai a Ele, e pede-Lhe que lave os teus pecados e te dê um coração novo. Então, crê que Ele o faz, porque o prometeu. Esta é a lição que Jesus ensinou enquanto esteve na Terra, que a dádiva que Deus nos promete, nós devemos crer que, de facto, a recebemos e será nossa. Jesus curou as pessoas das suas doenças quando tinham fé no Seu poder; Ele ajudava-as nas coisas que elas podiam ver, inspirando-as assim a terem confiança n'Ele a respeito de coisas que não podiam ver - levando-as a crer no Seu poder para perdoar pecados. Isto Ele declarou claramente ao curar o homem paralítico: "Ora, para que saibais que o Filho do homem tem, na Terra, poder para perdoar pecados (disse então ao paralítico): Levanta-te; toma a tua cama, e vai para tua casa." Mateus 9:6. Do mesmo modo, João, o evangelista, diz ao falar dos milagres de Cristo: "Estes, porém, foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome." João 20:31.

Do relato simples da Bíblia acerca da maneira como Jesus curava os doentes, podemos aprender alguma coisa sobre como crer n'Ele para o perdão dos pecados. Consideremos a história do paralítico em Betesda. O pobre sofredor sentia-se impotente; há 38 anos que não usava as suas pernas. Todavia, Jesus ordenou-lhe: "Levanta-te, toma a tua cama e anda." O paralítico poderia ter dito: "Senhor, se Tu me curares, eu obedecerei à Tua palavra." Mas, não, ele creu na palavra de Cristo, creu que tinha sido curado, e esforçou-se logo; ele quis andar e andou mesmo. Ele agiu baseado na palavra de Cristo e Deus deu o poder. Ele foi curado.

Do mesmo modo, tu és um pecador. Tu não podes expiar os teus pecados passados, não podes mudar o teu coração e fazeres-te a ti próprio santo. Mas Deus promete fazer tudo isto para ti mediante Cristo. Crê nessa promessa. Confessa os teus pecados e dá-te a ti mesmo a Deus. Tu queres servi-l'O. Ao fazeres isto, Deus cumprirá a Sua palavra em ti. Se creres na promessa - creres que estás perdoado e purificado - Deus transforma a tua fé em realidade; tu és curado, tal como Cristo deu poder ao paralítico para andar quando ele creu que estava curado. É assim se tu creres.

Não esperes até sentires que estás curado, mas diz: "Eu creio-o; é assim, não porque eu o sinta, mas porque Deus o prometeu."

Jesus diz: "Tudo o que pedirdes, orando, crede que o receberes, e tê-lo-eis." Marcos 11:24. Há uma condição nesta promessa - que oremos de acordo com a vontade de Deus. E a vontade de Deus é purificar-nos do pecado, fazer-nos Seus filhos e capacitar-nos a vivermos uma vida santa. Por isso, podemos pedir estas bênçãos, e crer que as receberemos, e agradecer a Deus por as termos recebido. É nosso privilégio irmos a Jesus e sermos purificados, e ficarmos de pé perante a lei, sem vergonha ou remorso. "Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito." Romanos 8:1.

A partir de agora tu não és de ti mesmo; foste comprado por um preço. "Não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, ... mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado." I Pedro 1:18,19. Mediante este acto simples de crer em Deus, o Espírito Santo gerou uma nova vida no teu coração. Tu és como uma criança nascida na família de Deus, e Ele ama-te como ama o Seu Filho.

Agora que te deste a ti mesmo a Jesus, não recues, não te afastes d'Ele, mas dia a dia diz: "Eu sou de Cristo; dei-me a mim mesmo a Ele"; e pede-Lhe que te dê o Seu Espírito e te guarde pela Sua graça. Uma vez que é ao dares-te a ti mesmo a Deus, e ao creres n'Ele, que te tornas Seu filho, assim deves viver n'Ele. O apóstolo diz: "Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim, também, andai n'Ele." Colossences 2:6.

Alguns parecem sentir que precisam de ficar sob provação, e que devem provar ao Senhor que estão transformados, antes de poderem reclamar as Suas bênçãos. Mas eles podem reclamar as bênçãos de Deus agora mesmo. Precisam de possuir a Sua graça, o Seu Espírito, para os ajudar nas suas enfermidades, caso contrário não conseguirão resistir ao Mal. Jesus gosta que vamos a Ele exactamente como estamos, pecadores, impotentes, dependentes. Podemos ir a Ele com todas as nossas fraquezas, loucuras, maldades e prostrar-nos aos Seus pés, arrependidos. É Seu desejo envolver-nos nos braços do Seu amor, ligar as nossas feridas, limpar-nos de toda a impureza.

É aqui que milhares fracassam; não crêem que Jesus lhes perdoa pessoal e individualmente. Não crêem em Deus segundo a Sua palavra. É privilégio de todos os que cumprem com as condições, saber por si mesmos que o perdão é estendido livremente a todo o pecado. Afasta a suspeita de que as promessas de Deus não são para ti. Elas são para todo o transgressor arrependido. Força e graça têm sido providas mediante Cristo para serem levadas por anjos ministradores a todos os crentes. Ninguém é tão pecador que não possa encontrar força, pureza e justiça em Jesus, que morreu por cada um de nós. Ele anseia tirar-nos as nossas vestes manchadas e poluídas pelo pecado, e vestir-nos com vestes brancas de justiça; Ele ordena-nos viver e não morrer.

Deus não lida connosco como os homens finitos lidam uns com os outros. Os Seus pensamentos são pensamentos de misericórdia, amor e da mais terna compaixão. Ele diz: "Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar." Isaías 55:7. "Desfaço as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem." Isaías 44:22.

"Não tomo prazer na morte do que morre, diz o Senhor Jeová: convertei-vos, pois, e vivei." Ezequiel 18:32. Satanás está pronto para anular as certezas de Deus. Ele deseja afastar da alma cada vislumbre de esperança e cada raio de luz; mas tu não lhe deves permitir fazer isto. Não dês ouvidos ao tentador, mas diz: Jesus morreu para que eu possa viver. Ela ama-me, e não quer que eu morra. Eu tenho um Pai Celestial bondoso; e, embora eu tenha abusado do Seu amor, embora as bênçãos que Ele me tem dado tenham sido dissipadas, levantar-me-ei, e irei ter com o meu Pai, e dir-lhe-ei: "Pai, pequei contra o céu e perante ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; faz-me como um dos teus jornaleiros." A parábola diz-te como o errante será recebido: "Quando ainda estava longe, viu-o o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou." Lucas 15:18-20.

Mas mesmo esta parábola, terna e tocante como é, não consegue expressar a infinita compaixão do Pai Celestial. O Senhor declara pelo Seu profeta: "Pois que com amor eterno te amei, também com amorosa benignidade te atraí." Jeremias 31:3. Enquanto o pecador está ainda longe da casa Paterna, gastando o seu dinheiro num país estranho, o coração do Pai está preocupado com ele, e cada anseio despertado na alma para voltar a Deus é apenas a terna intercessão do Seu Espírito, cativando, suplicando, atraindo o errante para o coração de amor do seu Pai.

Com as maravilhosas promessas da Bíblia perante ti, podes dar lugar à dúvida? Podes crer que quando o pobre pecador anseia voltar, anseia abandonar os seus pecados, o Senhor o impeça severamente de se prostrar aos Seus pés arrependido? Lança fora esses pensamentos! Nada pode ferir mais a tua alma do que sustentar uma tal concepção do nosso Pai Celestial. Ele odeia o pecado, mas ama o pecador, e deu-Se a Si mesmo na pessoa de Cristo, para que todos quantos quisessem pudessem ser salvos e ter uma eterna bem-aventurança no reino da glória. Que linguagem mais forte ou mais terna podia ter sido empregada do que aquela que Ele escolheu para expressar o Seu amor para connosco? Ele declara: "Pode uma mulher esquecer-se tanto do seu filho que cria, que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti." Isaías 49:15.

Olha para cima, tu que estás duvidando e tremendo; pois Jesus vive para interceder por nós. Agradece a Deus pela dádiva do Seu querido Filho e ora para que Ele não tenha morrido em vão por ti. O Espírito convida-te hoje. Vem, de todo o teu coração, a Jesus,e podes reclamar a Sua bênção.

Ao leres as promessas, lembra-te de que elas são a expressão de inexprimível amor e compaixão. O grande coração de Infinito Amor é atraído para o pecador com ilimitada compaixão. "Em quem temos a redenção pelo Seu sangue, e o perdão dos pecados." Efésios 1:7. Sim, crê somente que Deus é o teu ajudador. Ele deseja restaurar a Sua imagem moral no homem. Ao te aproximares d'Ele com confissão e arrependimento, Ele aproximar-Se-á de ti com misericórdia e perdão.


«ESTA  É  A  LIÇÃO  QUE  JESUS  ENSINOU  ENQUANTO  ESTEVE  NA  TERRA,
QUE  A  DÁDIVA  QUE  DEUS  NOS  PROMETE,  NÓS  DEVEMOS  CRER  QUE,  DE  FACTO,
A  RECEBEREMOS  E  SERÁ  NOSSA.»


«É  NOSSO  PRIVILÉGIO  IRMOS  A  JESUS  E  SERMOS  PURIFICADOS,
E  FICARMOS  DE  PÉ  PERANTE  A  LEI,  SEM  VERGONHA  OU  REMORSO.»


«ELE  AMA-ME,  E  NÃO  QUER  QUE  EU  MORRA.»

domingo, 16 de maio de 2010

5. ENTREGA TOTAL


A promessa de Deus é: "E buscar-Me-eis, e Me achareis, quando Me buscardes de todo o vosso coração." Jeremias 29:13.

O coração deve ser todo entregue a Deus, caso contrário não é possível operar-se em nós a mudança pela qual seremos restaurados à semelhança com Ele. Por natureza, estamos afastados de Deus. O Espírito Santo descreve a nossa condição em palavras como estas: "Mortos em ofensas e pecados" (Efésios 2:1); "Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco, ... não há nele coisa sã" (Isaías 1:5, 6); "Feitos cativos por ele (o diabo), para cumprirem a Sua vontade" (II Timóteo 2:26). Deus deseja curar-nos, libertar-nos. Mas, uma vez que isto requer uma inteira transformação, uma renovação de toda a nossa natureza, precisamos de nos render completamente a Ele.

A luta contra o eu é a maior batalha a travar. A entrega do eu, submetendo tudo à vontade de Deus, requer um combate; mas a alma deve submeter-se a Deus antes de poder ser renovada em santidade.

O governo de Deus não está fundado, como Satanás gostaria de fazer parecer, sobre uma submissão cega, um controlo irrazoável. Ele apela ao intelecto e à consciência. "Vinde, então, e argui-Me" é o convite do Criador aos seres que Ele criou (Isaías 1:18). Deus não força a vontade das Suas criaturas. Ele não pode aceitar uma homenagem que não seja dada voluntária e inteligentemente. Uma mera submissão forçada impediria todo o desenvolvimento real da mente e do carácter; faria do homem um mero autómato. Não é esse o propósito do Criador. Ele deseja que o homem, a obra-prima do Seu poder criador, atinja o mais elevado grau de desenvolvimento possível. Ele coloca perante nós a felicidade a que nos quer conduzir mediante a Sua graça. Ele convida-nos a entregarmo-nos a nós mesmos a Ele, para que Ele possa fazer em nós a Sua vontade. Resta-nos escolher se queremos ser libertados da escravidão do pecado, para participarmos da gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

Ao nos entregarmos a Deus, devemos necessariamente abandonar tudo aquilo que nos separa d'Ele. Por isso, o Salvador diz: "Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser Meu discípulo." Lucas 14:33. Tudo aquilo que afastar o coração de Deus, precisa de ser abandonado. Mamon é o ídolo de muitos. O amor ao dinheiro, o desejo de riqueza, é a corrente dourada que os prende a Satanás. A reputação e a honra mundana são adoradas por outra classe. A vida de comodidade egoísta e livre de responsabilidae é o ídolo de outros. Mas estes laços escravizadores precisam de ser quebrados. Não podemos ser metade do Senhor e metade do mundo. Não somos filhos de Deus a menos que o sejamos inteiramente.

Há aqueles que dizem servir a Deus, enquanto confiam nos seus próprios esforços para obedecer à sua lei, formar um carácter recto e assegurar a salvação. Os seus corações não são tocados por nenhum sentimento profundo do amor de Cristo, procuram realizar os deveres da vida cristã como sendo aquilo que Deus requer deles a fim de ganharem o Céu. Tal religião não vale nada. Quando Cristo habita no coração, este será de tal maneira cheio do Seu amor, da alegria da comunhão com Ele, que se apegará a Ele; e, ao contemplá-l'O, o eu será esquecido. O amor a Cristo será a fonte de inspiração para a acção. Aqueles que sentem o amor transformador de Deus, não perguntam quão pouco podem dar para preencherem os requesitos de Deus; não desejam o padrão mais baixo, mas desejam uma perfeita conformidade com a vontade do seu Redentor. Com resolução enérgica, deixam tudo e manifestam um interesse proporcional ao valor do objecto que procuram. Uma profissão de fé em Cristo sem este amor profundo é mera conversa, formalismo insípido e trabalho penoso e ingrato.

Sentes que é um sacrifício demasiado grande abandonares tudo por Cristo? Faz a ti mesmo a pergunta: "Que deu Cristo por mim?" O Filho de Deus deu tudo - vida, amor e sofrimento - pela nossa Redenção. E é possível que nós, os objectos indignos de tão grande amor, Lhe neguemos o nosso coração? Em cada momento da nossa vida temos sido participantes das bênçãos da Sua graça e, por esta mesma razão, não podemos compreender plenamente as profundezas da ignorância e miséria de que fomos salvos. Podemos olhar para Aquele a quem os nossos pecados trespassaram, e mesmo assim estar dispostos a desprezar todo o Seu amor e sacrifício? À vista da infinita humilhação do Senhor da glória, vamos nós murmurar porque só podemos entrar na vida mediante conflito e humilhação do eu?

A queixa de muitos corações orgulhosos é: "Porque preciso eu de andar em penitência e humilhação antes de ter a certeza da aceitação de Deus?" Olhem para Cristo. Ele era sem pecado e, mais do que issso, Ele era o Príncipe do Céu; mas, a favor do homem, Ele tornou-se pecado pela raça. "Ele foi contado com os transgressores; mas Ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercede." Isaías 53:12.

Mas a que é que nós renunciamos, quando damos tudo? A um coração poluído pelo pecado, para que Jesus o purifique, o limpe com o Seu próprio sangue, e o salve pelo Seu incomparável amor. E ainda assim os homens acham difícil dar tudo! Sinto-me envergonhada ao ouvir isto, envergonhada por ter de o escrever.

Deus não requer que renunciemos a nada que seja para o nosso interesse reter. Em tudo o que Ele faz, tem em vista o bem-estar dos Seus filhos. Quem dera que todos os que não aceitaram Cristo pudessem compreender que Ele tem algo imensamente melhor para lhes oferecer do que aquilo que eles procuram por si mesmos. O homem está a fazer a maior injúria e injustiça a si próprio quando pensa e age contrariamente à vontade de Deus.

Não se pode encontrar nenhuma alegria verdadeira na vereda proibida por Aquele que conhece o que é melhor e que olaneia o bem das suas criaturas. A vereda da transgressão é a vereda da miséria e da destruição.

É um erro acariciar o pensamento de que Deus gosta de ver os Seus filhos sofrerem. Todo o Céu está interessado na felicidade do homem. O nosso Pai Celestial não veda os caminhos da alegria a nenhuma das Suas criaturas. Os requisistos divinos pedem-nos que nos afastemos dos prazeres que nos trariam sofrimento e desapontamento, que nos fechariam a porta da felicidade e do Céu. O Redentor do mundo aceita os homens tal como são, com todas as suas necessidades, imperfeições e fraquezas; e Ele não só limpa do pecado e concede redenção mediante o Seu sangue, mas também satisfará os anseios do coração de todos aqueles que aceitarem tomar o Seu jugo e carregar o Seu fardo. É Seu propósito conceder paz e repouso a todos os que forem a Ele para obterem o pão da vida. Ele requer de nós que realizemos só aqueles deveres que conduzirão os nossos passos para uma felicidade que o desobediente nunca atingirá. A verdadeira alegria da alma é ter Cristo no coração; Ele, que é a esperança da glória.

Muitos perguntam: "Como posso fazer a entrega de mim mesmo a Deus?" Desejas dar-Te a Ele, mas és fraco em força moral, escravo da dúvida e controlado pelos hábitos da tua vida de pecado. As tuas promessas e resoluções são como cordas de areia. Não consegues controlar os teus pensamentos, os teus impulsos, as tuas afeições. O conhecimento das tuas promessas e dos teus votos quebrados enfraquece a tua confiança na tua própria sinceridade, e leva-te a sentires que Deus não te pode aceitar... mas tu não precisas de desesperar. O que precisas de compreender é a verdadeira força da vontade. Este é o poder que governa na natureza humana, o poder da decisão ou da escolha. Tudo depende da acção correcta da vontade. Deus deu o poder de escolha aos homens; é seu dever exercitá-lo. Tu não podes mudar o teu coração, não podes por ti mesmo dar a Deus as tuas afeições; mas podes escolher servi-l'O. Podes dar-Lhe a tua vontade; Ele operará então em ti o querer e o efectuar segundo a Sua boa vontade.

Assim, toda a tua natureza será colocada sob o controlo do Espírito de Cristo; as tuas afeições centralizar-se-ão n'Ele, os teus pensamentos harmonizar-se-ão com Ele.

Desejos de bondade e santidade são correctos até certo ponto; mas, se tu parares aqui, eles não te servem de nada. Muitos perder-se-ão; no entanto, esperaram e desejaram ser cristãos. Não chegaram ao ponto de entregarem a Sua vontade a Deus. Agora, já não decidem ser cristãos.

Mediante o exercício correcto da vontade, pode ser feita uma mudança completa na tua vida. Ao entregares a tua vida a Cristo, alias-te com o Poder que está acima de todos os principados e potestades. Receberás poder de cima para te manteres firme, e assim, por meio de constante entrega a Deus, ficarás habilitado a viver a nova vida, a vida da fé.



«DEUS  NÃO  FORÇA  A  VONTADE  DAS  SUAS  CRIATURAS.»


«ELE  COLOCA  PERANTE  NÓS  A  FELICIDADE  A  QUE  NOS  QUER  CONDUZIR
MEDIANTE  A  SUA  GRAÇA.»


«QUEM  DERA  QUE  TODOS  OS  QUE  NÃO  ACEITARAM  CRISTO  PUDESSEM  COMPREENDER
QUE  ELE  TEM  ALGO  IMENSAMENTE  MELHOR  PARA  LHES  OFERECER
DO  QUE  AQUILO  QUE  ELES  PROCURAM  POR  SI  MESMOS.»


«TODO  O  CÉU  ESTÁ  INTERESSADO  NA  FELICIDADE  DO  HOMEM.
O  NOSSO  PAI  CELESTIAL  NÃO  VEDA  OS  CAMINHOS  DA  ALEGRIA
A  NENHUMA  DAS  SUAS  CRIATURAS.»

sábado, 8 de maio de 2010

4. ABRE O CORAÇÃO A DEUS


"O que encobre as suas transgressões, nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia." Provérbios 28:13.

As condições para obtermos a misericórdia de Deus são simples, justas e razoáveis. O Senhor não requer que façamos alguma coisa penosa para obtermos o perdão dos pecados. Não precisamos de fazer longas e cansativas peregrinações, ou fazer penitências dolorosas, para recomendar a nossa alma ao Deus do Céu ou reparar as nossas faltas; mas aquele que confessa e abandona o seu pecado alcançará misericórdia.

O apóstolo diz: "Confessem as vossas faltas uns aos outros, e orem uns pelos outros, para que sejam curados." Tiago 5:16. Confessem os vossos pecados a Deus, o único que os pode perdoar, e as vossas faltas uns aos outros. Se tiveres ofendido o teu amigo ou vizinho, deves reconhecer a tua falta, e é seu dever perdoar-te completamente. Depois, deves procurar o perdão de Deus, porque o irmão que tu magoaste é propriedade de Deus, e ao injuriá-lo tu pecaste contra o seu Criador e Redentor. O caso é levado perante o único verdadeiro Mediador, o nosso grande Sumo Sacerdote, que "foi em todos os pontos tentado como nós o somos, todavia sem pecado", e que é "tocado com o sentimento das nossas enfermidades" (Hebreus 4:15), e é capaz de nos purificar de todo o mal.

Os que não se humilharam perante Deus reconhecendo a sua culpa, não cumpriram ainda a primeira condição de aceitação. Se não experimentámos aquele arrependimento do qual não temos que nos arrepender, e não confessámos com verdadeira humilhação de coração e espírito, detestando o nosso erro, nunca buscámos verdadeiramente o perdão do pecado; e, se nunca o buscámos, nunca encontrámos a paz de Deus. A única razão para não termos a remissão dos pecados passados é não estarmos dispostos a humilhar o nosso coração e a cumprir as condições da Palavra da verdade. É dada instrução explícita a respeito deste assunto. A confissão do pecado, quer seja pública ou privada, deve ser sentida no coração e expressa livremente. Não deve ser imposta ao pecador. Não deve ser feita de uma maneira irreverente e descuidada, ou imposta àqueles que não têm uma compreensão nítida do carácter repugnante do pecado. A confissão que brota espontaneamente dos recônditos da alma encontra a compaixão infinita de Deus. O salmista diz: "O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito." Salmos 34:18.

A confissão verdadeira é sempre de carácter específico e reconhece pecados particulares. Eles podem ser de natureza tal que devam ser só apresentados a Deus; podem ser faltas que devem ser confessadas a indivíduos que sofrem injúria através delas; ou podem ser de carácter público, e então devem ser confessadas publicamente. Porém, toda a confissão deve ser definida e directa, reconhecendo os próprios pecados de que somos culpados.

No tempo de Samuel, os israelitas afastaram-se de Deus. Eles estavam a sofrer as consequências do pecado, pois tinham perdido a sua fé em Deus, e no Seu poder e sabedoria para governar a nação, e a confiança na Sua capacidade de defender e vindicar a Sua causa. Afastaram-se do grande Governador do Universo e desejaram ser governados como eram as nações ao seu redor. Antes de encontrarem paz, fizeram esta confissão definida: "Nós temos acrescentado a todos os nossos pecados este mal, de pedirmos para nós um rei." I Samuel 12:19. O próprio pecado de que se sentiam convictos devia ser confessado. A sua ingratidão oprimia o seu coração e separava-os de Deus.

A confissão não será aceite por Deus sem um arrependimento e reforma sinceros. Deve haver mudanças decididas na vida; tudo o que for ofensivo a Deus deve ser afastado como resultado de verdadeira tristeza pelo pecado. O trabalho que temos a fazer da nossa parte está claramente delineado perante nós: "Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade dos vossos actos de diante dos Meus olhos; cessai de fazer o mal; aprendei a fazer o bem; praticai o que é recto; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas." Isaías 1: 16-17. "Se esse ímpio restituir o penhor, devolver o que ele tinha furtado, e andar nos estatutos da vida, não praticando a iniquidade, certamente viverá, não morrerá." Ezequiel 33:15. O apóstolo Paulo diz acerca da obra do arrependimento: "Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós, que segundo Deus fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio." II Coríntios 7:11.

Quando o pecado apaga as percepções morais, o malfeitor não discerne os defeitos do seu carácter nem compreende a enormidade do pecado que cometeu; e, a não ser que se submeta ao poder convincente do Espírito Santo, ele permanece numa cegueira parcial a respeito do seu pecado. As suas confissões não são sinceras nem fervorosas. A cada reconhecimento da sua culpa ele acrescenta uma desculpa para justificar o seu modo de vida, declarando que, se não tivessem sido certas circunstâncias, não teria feito isto ou aquilo pelo qual é reprovado.

Depois de Adão e Eva terem comido do fruto proibido, ficaram cheios de um sentimento de vergonha e terror. A princípio, o seu único pensamento foi de como haviam de desculpar o seu pecado e escapar da terrível sentença de morte. Quando o Senhor lhe falou a respeito do seu pecado, Adão respondeu colocando a culpa em parte sobre Deus e em parte sobre a sua companheira: "A mulher que me deste, por companheira, ela me deu da árvore, e comi." Génesis 3:12. A mulher colocou a culpa sobre a serpente, dizendo: "A serpente me enganou, e eu comi." Génesis 3:13. Porque fizeste Tu a serpente? Porque permitiste que ela entrasse no Éden? Estas foram as questões implícitas na sua desculpa pelo seu pecado, responsabilizando assim Deus pela sua queda. O espírito de justificação própria originou-se com o pai da mentira e tem sido exibido por todos os filhos e filhas de Adão. As confissões deste tipo não são inspiradas pelo Espírito divino e não serão aceites por Deus. O verdadeiro arrependimento levará uma pessoa a suportar a sua própria culpa e a reconhecê-la sem engano ou hipocrisia. Como o pobre publicano, não levantando muito os olhos para o Céu, ele clamará: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" E os que reconhecerem a sua culpa serão justificados, pois Jesus intercederá com o Seu sangue em favor da pessoa arrependida.

Os exemplos, na Palavra de Deus, de arrependimento e humilhação genuínos revelam um espírito de confissão no qual não há qualquer desculpa para o pecado em tentativa de justificação própria. O apóstolo Paulo não procurou defender-se; ele pinta o seu pecado nas cores mais negras, não procurando diminuir a culpa. Ele afirma: "Encerrei muitos dos santos nas prisões; e, quando os matavam, eu dava o meu voto contra eles. E, castigando-os muitas vezes, por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui." Actos: 26:10, 11. Ele não hesita em declarar que "Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." I Timóteo 1:15.

O coração humilde e contrito, subjugado por um arrependimento genuíno, apreciará algo do amor de Deus e do custo do Calvário; e, como um filho se confessa a um pai amoroso, assim o verdadeiro penitente trará todos os seus pecados perante Deus. E está escrito: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça." I João 1:9.



«A  CONFISSÃO  QUE  BROTA  ESPONTANEAMENTE  DOS  RECÔNDITOS  DA  ALMA
ENCONTRA  A  COMPAIXÃO  INFINITA  DE  DEUS.»

«O  CORAÇÃO  HUMILDE  E  CONTRITO,  SUBJUGADO  POR  UM  ARREPENDIMENTO  GENUÍNO,
APRECIARÁ  ALGO  DO  AMOR  DE  DEUS
 E  DO  CUSTO  DO  CALVÁRIO.»

sábado, 1 de maio de 2010

3. LIBERTO DA CULPA


Como pode um homem ser justo para com Deus? Como pode o pecador ser justificado? É unicamente mediante Cristo que podemos ser colocados em harmonia com Deus, com a santidade. Mas como podemos ir a Cristo? Muitos estão a fazer a mesma pergunta da multidão no dia do Pentecostes, quando, convictos do pecado, exclamaram: "Que faremos?" A primeira palavra da resposta de Pedro foi: "Arrependei-vos". Actos 2:37, 38. Noutra ocasião, pouco tempo depois, ele disse: "Arrependei-vos... e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados." Actos 3:19.

O arrependimento inclui tristeza pelo pecado e um afastamento dele. Não renunciaremos ao pecado, a não ser que vejamos a sua maldade; até nos afastarmos dele de coração, não haverá qualquer mudança real na vida.

Há muitos que deixam de compreender a verdadeira natureza do arrependimento. Multidões sentem-se tristes porque pecaram e até fazem uma reforma exterior porque temem que as suas obras más lhes tragam sofrimento. Mas isto não é arrependimento segundo o critério da Bíblia. Elas lamentam o sofrimento em vez do pecado. Essa foi a tristeza de Esaú quando viu que perdera a primogenitura para sempre. Balaão, aterrado perante o anjo com a espada desembainhada, reconheceu a sua culpa para não perder a sua vida; mas não houve qualquer arrependimento genuíno do pecado, nenhuma conversão de propósito, nenhum repúdio do mal. Judas Iscariotes, depois de ter traído o seu Senhor, exclamou: "Pequei, traindo o sangue inocente." Mateus 27:4.

A confissão da sua alma culpada foi forçada por um sentimento de condenação e por uma expectativa terrífica do juízo. As consequências, que trariam um resultado certo sobre ele, encheram-no de terror, mas não havia nenhuma tristeza desoladora, profunda na sua alma, de que ele tinha traído o imaculado Filho de Deus e negado o Santo de Israel. Faraó, enquanto sofria sob os juízos de Deus, reconheceu o seu pecado para poder escapar a uma punição posterior, mas voltava ao seu desafio logo que as pragas cessavam. Todos estes lamentaram os resultados do pecado, mas não se entristeceram pelo pecado em si mesmo.

Mas quando o coração se rende à influência do Espírito de Deus, a consciência é despertada e o pecador discerne algo de profundo e sagrado na santa lei de Deus, o fundamento do Seu governo no Céu e na Terra. A "luz,... que ilumina todo o homem que vem ao mundo" (João 1:99, ilumina os recessos secretos da alma, e as coisas escondidas das trevas são manifestas. A convicção apodera-se da mente e do coração. O pecador tem um senso da justiça de Jeová e sente o terror de aparecer, na sua própria culpa e impureza, perante o Perscrutador dos corações. Ele vê o amor de Deus, a beleza da santidade, a alegria da pureza; ele deseja ser purificado e restaurado à comunhão com o Céu.

A oração de David, após a sua queda, ilustra a natureza da verdadeira tristeza pelo pecado. O seu arrependimento foi sincero e profundo. Não houve esforço algum para desculpar a sua culpa; nenhum desejo de escapar ao juízo ameaçador inspirou a sua oração. David viu a enormidade da sua transgressão, viu a contaminação do seu coração. Ele detestou o seu pecado. Não foi só por perdão que ele orou, mas pela pureza do coração. Ele quis ter a alegria da santidade - ser restaurado à harmonia e comunhão com Deus. Foram estas as suas palavras:

"Bem- aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano." Salmos 32:1, 2.

"Tem misericórdia de mim, Ó Deus, segundo a Tua benignidade, apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das Tuas misericórdias. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Purifica-me com hissope e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espíriro recto. Não me lances fora da Tua presença e não retires de mim o Teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegia da Tua Salvação e sustém-me com um espírito voluntário. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a Tua justiça." Salmos 51:1-14.

Conseguir um arrependimento como este está para além do nosso próprio poder. Ele é obtido apenas de Cristo, que ascendeu ao alto e deu dons aos homens.

Aqui está exactamente um ponto em que muitos podem errar e, por conseguinte, fracassam em receber a ajuda que Cristo deseja dar-lhes. Pensam que não podem ir a Cristo a não ser que se arrependam primeiro, e que o arrependimento os prepara para o perdão dos seus pecados. É verdade que o arrependimento precede, de facto, o perdão dos pecados, pois só o coração triste e arrependido sente a necessidade de um Salvador. Mas deve o pecador esperar até se arrepender antes de poder ir a Jesus? Deve o arrependimento tornar-se um obstáculo entre o pecador e o Salvador?

A Bíblia não ensina que o pecador deve arrepender-se antes de poder aceitar o convite de Cristo, "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. É a virtude que procede de Cristo, que conduz ao arrependimento genuíno. O apóstolo Pedro esclareceu o assunto na sua declaração aos israelitas, quando disse: "Deus, com a Sua dextra O elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados." Actos 5:31. Não podemos arrepender-nos sem que o Espírito de Cristo nos desperte a consciência.

Cristo é a Fonte de todo o impulso correcto. Ele é o único que pode implantar no coração inimizade contra o pecado. Todo o desejo pela verdade e pureza, cada convicção da nossa própria pecaminosidade, é uma evidência de que o Seu Espírito está a agir no nosso coração.

Jesus disse: "E Eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a Mim." João 12:32. Cristo deve ser revelado ao pecador como o Salvador que morreu pelos pecados do mundo; e, ao contemplarmos o Cordeiro de Deus sobre a cruz do Calvário, o mistério da redenção começa a desvendar-se à nossa mente e a bondade de Deus conduz-nos ao arrependimento. Ao morrer pelos pecadores, Cristo manifestou um amor que é incompreensível; quando o pecador observa e sente este amor, o coração fica suavizado, a mente impressionada e a alma influenciada por ele.

É verdade que os homens às vezes se envergonham dos seus actos pecaminosos, e abandonam alguns dos seus maus hábitos, antes de estarem conscientes de que estão a ser atraídos para Cristo. Mas sempre que fazem um esforço para se reformarem, a partir de um sincero desejo de procederem correctamente, é o poder de Cristo que os está a atrair. Uma influência, da qual estão inconscientes, opera na alma, e a consciência é despertada, e a vida exterior é corrigida. E quando Cristo os leva a olhar para a Sua cruz, para contemplarem Aquele que os pecados ali cravaram, os mandamentos de Deus tocam a sua consciência. A maldade da sua vida, o pecado arraigado no coração, é-lhes revelado. Começam a comprender algo da justiça de Cristo e exclamam: "O que é o pecado, que devesse requerer um tal sacrifício para a redenção das suas vítimas? Foi requerido todo este amor, todo este sofrimento, toda esta humilhação, para que não perecêssemos, mas tivéssemos vida eterna?"

O pecador pode resistir a este amor, pode recusar ser atraído para Cristo; mas, se não resistir, será atraído para Jesus. Um conhecimento do plano da salvação conduzi-lo-á para ao pé da cruz em arrependimento pelos seus pecados, que causaram o sofrimento do querido Filho de Deus.

A mesma mente divina que está a trabalhar nas coisas da Natureza, está a falar ao coração dos homens e a criar um desejo inexprimível por algo que eles não têm. As coisas do mundo não podem satisfazer o seu anseio. O Espírito de Deus disputa com eles para procurarem a única coisa que pode dar paz e repouso - a graça de Cristo, a alegria da santidade. Mediante influências visíveis e invisíveis, o nosso Salvador está constantemente a agir para atrair a mente dos homens dos desejos insatisfatórios do pecado para as bênçãos infinitas que podem ser suas através d'Ele. A todas estas pessoas, que procuram, em vão, beber das cisternas rotas deste mundo, é dirigida a mensagem divina: "E quem tem sede, venha; e quem quiser tome de graça da água da vida." Apocalipse 22:17.

Tu, que no teu coração desejas algo melhor do que este mundo pode dar, reconhece este anseio como a voz de Deus a dirigir-Se à tua consciência. Pede-Lhe para te dar arrependimento, para te revelar Cristo no Seu infinito amor, na Sua perfeita pureza. Na vida do Salvador os princípios da lei de Deus - amor a Deus e ao próximo - foram perfeitamente exemplificados. Benevolência, amor altruísta, faziam parte do Seu carácter. É na medida em que O contemplamos, na medida em que a luz do nosso Salvador incide sobre nós, que vemos a do nosso próprio coração.

Podemos lisonjear-nos a nós mesmos, como fez Nicodemos, de que a nossa vida tem sido recta, de que o nosso carácter moral é correcto, e pensarmos que não precisamos de humilhar o coração perante Deus, como o pecador comum, mas quando a luz de Cristo brilha na nossa consciência, vemos quão impuros somos; discernimos o egoísmo dos nossos motivos, a inimizade contra Deus, que tem corrompido cada acto da vida. Então, aprendemos que a nossa justiça própria é, de facto, como trapos de imundície e que só o sangue de Cristo nos pode purificar da poluição do pecado, e renovar o nosso coração à Sua própria semelhança.

Um raio da glória de Deus, um esplendor da pureza de Cristo, penetrando o espírito, torna cada mancha de impureza dolorosa, distinta, e coloca a descoberto a deformidade e os defeitos do carácter humano. Torna evidentes os desejos não santificados, a infidelidade do coração, a impureza dos lábios. Os actos de deslealdade do pecador e o desrespeito à lei de Deus são-lhe expostos e o seu espírito é ferido e afligido sob a influência perscrutadora do Espírito de Deus. Ele detesta-se a si mesmo ao contemplar o carácter puro e imaculado de Cristo.

Quando o profeta Daniel contemplou a glória a circundar o mensageiro celestial que lhe foi enviado, sentiu-se esmagado com a sensação da sua própria fraqueza e imperfeição. Descrevendo o efeito da cena maravilhosa, ele diz: "Não ficou força em mim; e transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma." Daniel 10:8. A pessoa que assim for tocada odiará o seu egoísmo, detestará o seu amor próprio, e buscará, mediante a justiça de Cristo, a pureza de coração que está em harmonia com a lei de Deus e o carácter de Cristo.

O apóstolo Paulo diz que "segundo a justiça que há na lei" - no que diz respeito aos actos exteriores - ele era "irrepreensível" (Filipenses 3:6); mas, quando percebeu o carácter espiritual da lei, ele viu-se a si mesmo um pecador. Julgado pela letra da lei, na medida em que os homens a aplicam à vida exterior, ele tinha-se abstido do pecado; mas, quando olhou para as profundezas dos Seus santos preceitos, e se viu a si mesmo como Deus o via, humilhou-se e confessou a sua culpa. Ele diz: "E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri." Romanos 7:9. Quando ele viu a natureza espiritual da lei, o pecado apareceu na sua verdadeira hediondez, e a boa opinião que tinha de si mesmo desapareceu.

Deus não considera todos os pecados de igual magnitude; há graus de culpa na Sua avaliação, assim como na dos homens. Mas, embora este ou aquele acto errado possa parecer trivial aos olhos dos homens, nenhum pecado é pequeno à vista de Deus. O juízo do homem é parcial e imperfeito; mas Deus considera todas as coisas como elas são realmente. O bêbado é desprezado e dizem-lhe que o seu pecado o excluirá do Céu, enquanto que o orgulho, o egoísmo e a cobiça passam muitas vezes sem serem repreendidos. Mas estes são pecados especialmente ofensivos a Deus; pois eles são contrários à benevolência do Seu carácter, àquele amor altruísta que é a própria atmosfera do Universo não caído. Aquele que cai nalgum dos pecados mais grosseiros pode sentir vergonha, pobreza e a sua necessidade da graça de Cristo; mas o orgulhoso não sente necessidade alguma; e por isso fecha o coração contra Cristo e as bênçãos infinitas que Ele veio oferecer.

O pobre publicano que orou: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" (Lucas 18:13), considerava-se a si mesmo um homem muito mau, e os outros olhavam-no também dessa maneira; mas ele sentiu a sua necessidade, e, com o fardo de culpa e vergonha, foi perante Deus, suplicando a Sua misericórdia. O seu coração estava aberto ao Espírito de Deus para realizar a Sua graciosa obra e libertá-lo do poder do pecado. A oração jactanciosa e de justiça própria do fariseu mostrou que o seu coração estava fechado à influência do Espírito Santo. Devido à sua distância de Deus, não tinha noção da sua própria corrupção, em contraste com a perfeição da santidade divina. Ele não sentia necessidade alguma e, como tal, não recebeu nada.

Se tu vires a tua maldade, não esperes até seres melhor. Quantos há que pensam que não são suficientemente bons para irem a Cristo? Esperas tornares-te melhor mediante os teus próprios esforços? "Pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso, também, vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal." Jeremias 13:23. Só em Deus há ajuda para nós. Não devemos esperar por persuasões mais fortes, melhores oportunidades ou temperamentos mais santos. Por nós mesmos, nada podemos fazer. Devemos ir a Cristo tal como estamos.

Mas que ninguém se engane a si mesmo com o pensamento de que Deus, no Seu grande amor e misericórdia, salvará até mesmo os que rejeitarem a Sua graça. A excessiva maldade do pecado só pode ser avaliada à luz da cruz. Quando os homens insistem que Deus é demasiado bom para rejeitar o pecador, que olhem para o Calvário. Foi porque não havia nenhuma outra maneira pela qual o homem pudesse ser salvo, porque sem este sacrifício era impossível à raça humana escapar do poder corruptor do pecado, e ser restaurada a comunhão com seres santos - impossível para eles voltarem a ser participantes da vida espiritual - foi por causa disto que Cristo tomou sobre Si mesmo a culpa do desobediente e sofreu no lugar do pecador. O amor, o sofrimento e a morte do Filho de Deus, todos confirmam a terrível enormidade do pecado e declaram que não há escape algum do seu poder, nenhuma esperança de vida mais elevada, senão mediante a submissão do coração a Cristo.

Os incrédulos, às vezes, desculpam-se a si mesmos ao dizerem de cristãos professos: "Sou tão bom como eles. Eles não são mais abnegados, sóbrios, ou cautelosos na sua conduta do que eu. Eles amam os prazeres e a indulgência própria, tal como eu." Fazem, deste modo, das faltas dos outros desculpa para a sua própria negligência do dever. Mas os pecados e defeitos dos outros não desculpam ninguém, pois o Senhor não nos deu um exemplo humano imperfeito. Como nosso exemplo foi-nos dado o imaculado Filho de Deus, e aqueles que se queixam da vida pecaminosa de cristãos professos são esses mesmos que deveriam mostrar melhor vida e exemplos mais nobres. Se eles têm tão elevado conceito do que deve ser um cristão, não é o seu pecado ainda mais grave? Eles sabem o que é correcto, mas recusam-se a fazê-lo.

Cuidado, não adies a obra de abandonares os teus pecados e procurares pureza de coração mediante Jesus. É aqui que milhares e milhares têm errado e se têm perdido. Não me refiro à brevidade e incerteza da vida; mas há um perigo terrível - um perigo que não é suficientemente compreendido - em demorar a render-se à voz intercessora do Espírito Santo de Deus, em escolher viver no pecado; pois é isso que essa demora realmente é. O pecado, ainda que considerado pequeno, pode-se condescender com ele com o perigo de perda infinita. Aquilo que não vencermos, vencer-nos-á e operará a nossa destruição.

Adão e Eva convenceram-se de que, de uma questão tão pequena como comer do fruto proibido, não poderiam resultar consequências tão terríveis como Deus tinha declarado. Mas esta pequena questão era a transgressão da imutável e santa lei de Deus, e isso separou o homem de Deus e abriu as portas da morte e da dor sobre o nosso mundo. Era após era tem subido da nossa Terra um contínuo grito de dor, e toda a criação geme e sente juntamente dores de parto como consequência da desobediência do homem. O próprio Céu sentiu os efeitos da sua rebelião contra Deus. O Calvário permanece como um memorial do surprendente sacrifício requerido para expiar a transgressão da lei divina. Não consideremos o pecado como uma coisa trivial.

Cada acto de transgressão, cada negligência ou rejeição da graça de Cristo, reflecte-se sobre ti mesmo; isso endurece o coração, perverte a vontade, entorpece o entendimento, e não só te torna menos inclinado a entregares-te, como menos capaz de te entregares à terna intercessão do Espírito Santo de Deus.

Muitos estão a calar uma consciência perturbada com o pensamento de que podem mudar a sua vida de pecado quando quiserem; que podem menosprezar os convites da misericórdia, apesar de serem impressionados repetidamente. Pensam que, após terem desprezado o Espírito da graça, após terem colocado a sua influência ao lado de Satanás, num momento de terrível necessidade podem mudar o seu curso de vida. Mas isto não é assim tão fácil de se fazer. A experiência e a educação de uma vida inteira terão moldado tão completamente o carácter, que poucos desejam então receber a imagem de Jesus.

Mesmo um traço errado de carácter, um desejo pecaminoso, persistentemente acariciados, neutralizarão finalmente todo o poder do evangelho. Cada condescendência com o erro fortalece a aversão do coração para com Deus. O homem que manifesta uma altivez obstinada, ou uma indiferença impassível para com a verdade divina, não está senão a colher aquilo que ele próprio semeou. Em toda a Bíblia não há advertência mais terrível contra o brincar com o pecado do que as palavras do sábio de que o pecador "com as cordas do seu pecado será detido." Provérbios 5:22.

Cristo está pronto a libertar-nos do pecado, mas Ele não força a vontade; e se, por persistente transgressão, a própria vontade está totalmente vergada pelo pecado, e não desejarmos ser libertados, se não aceitarmos a Sua graça, que mais poderá Ele fazer? Ter-nos-emos destruído pela nossa determinada rejeição do Seu amor. "Eis aqui, agora, o tempo aceitável; eis aqui, agora, o dia da salvação." II Coríntios 6:2. "Se ouvirdes, hoje, a Sua voz, não endureçais os vossos corações." Hebreus 3:7, 8.

"O homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração" (I Samuel 16:7) - o coração humano, com as suas emoções conflituosas de alegria e tristeza; o coração inconstante e transviado, que é habitação de tanta impureza e engano. Ele conhece os teus motivos, as tuas próprias intenções e propósitos. Vai a Ele com a tua alma toda manchada como está. Como o salmista, abre os teus segredos aos olhos de Quem tudo vê, exclamando: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno." Salmos 139:23, 24.

Muitos aceitam uma religião intelectual, uma forma de piedade, quando o coração não está purificado. Que esta seja a tua oração: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito recto." Salmos 51:10. Sê verdadeito contigo próprio. Sê tão fervoroso e persistente como o serias se a tua vida mortal estivesse em jogo. Esta é uma questão que deve ser resolvida entre Deus e a tua própria consciência para a eternidade. Uma esperança baseada unicamente em suposições ser-te-é fatal.

Estuda a Palavra de Deus com oração. Essa Palavra apresenta diante de ti, na lei de Deus e na vida de Cristo, os grandes princípios da santidade, sem a qual "ninguém verá o Senhor." Hebreus 12:14. Ela convence do pecado; ela revela claramente o caminho da salvação. Presta-lhe atenção como sendo a voz de Deus a falar-te pessoalmente.

Ao constatares a enormidade do pecado, ao veres-te a ti mesmo como realmente és, não desesperes. Foram os pecadores que Cristo veio salvar. Nós não temos que reconciliar Deus connosco, mas - oh, amor maravilhoso! - Deus em Cristo está "reconciliando o mundo consigo mesmo." II Coríntios 5:19. Ele está a tentar atrair, com o Seu terno amor, o coração dos Seus filhos errantes. Nenhum pai terrestre seria tão paciente com as faltas e erros dos seus filhos, como Deus é com aqueles que Ele procura salvar. Ninguém poderia insistir mais ternamente com o transgressor. Nunca lábios humanos expressaram mais ternas súplicas para com o errante do que Ele. Todas as Suas promessas e advertências são apenas o suspiro do Seu grande amor.

Quando Satanás te vier dizer que és um grande pecador, olha para o teu Redentor e fala dos Seus méritos. O que te ajudará é olhares para a Sua luz. Reconhece o teu pecado, mas diz ao inimigo que "Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores" (I Timóteo 1:15) e que tu podes ser salvo pelo Seu incomparável amor. Jesus fez uma pergunta a Simão a respeito de dois devedores. Um devia ao senhor uma pequena quantia, e o outro devia-lhe uma soma muito elevada; mas ele perdoou a ambos, e Cristo perguntou a Simão qual dos dois devedores deveria amar mais o seu senhor. Simão respondeu: "Aquele a quem mais perdoou." Lucas 7:43. Nós temos sido grandes pecadores, mas Cristo morreu para que pudéssemos ser perdoados. Os méritos do Seu sacrifício são suficientes para apresentar ao pai em nosso favor. Aqueles a quem Ele mais tem perdoado, mais O amarão, e ficarão junto ao Seu trono para O louvarem pelo Seu grande amor e infinito sacrifício. É quando compreendermos plenamente o amor de Deus que melhor compreenderemos a maldade do pecado. Quando virmos o comprimento da corrente que foi lançada do alto até nós, quando compreendermos algo do infinito sacrifício que Cristo fez em nosso favor, o nosso coração encher-se-á de ternura e contrição.


«A  BÍBLIA  NÃO  ENSINA  QUE  O  PECADOR  DEVE  ARREPENDER-SE
ANTES  DE  PODER  ACEITAR  O  CONVITE  DE  CRISTO.»


«TU,  QUE  NO  TEU  CORAÇÃO  DESEJAS  ALGO  MELHOR
DO  QUE  ESTE  MUNDO  PODE  DAR,
RECONHECE  ESTE  ANSEIO  COMO  A  VOZ  DE  DEUS
A  DIRIJIR-SE  À  TUA  CONSCIÊNCIA.»


«NÃO  DEVEMOS  ESPERAR  POR  PERSUASÕES  MAIS  FORTES,
MELHORES  OPORTUNIDADES  OU  TEMPERAMENTOS  MAIS  SANTOS.
DEVEMOS  IR  A  CRISTO  TAL  COMO  ESTAMOS.»


«SE  TU  VIRES  A  TUA  MALDADE,  NÃO  ESPERES  ATÉ  SERES  MELHOR.
SÓ  EM  DEUS  HÁ  AJUDA  PARA  NÓS.»


«O  CALVÁRIO  PERMANECE  COMO  UM  MEMORIAL
DO  SURPREENDENTE  SACRIFÍCIO  REQUERIDO
PARA  EXPIAR  A  TRANSGRESSÃO  DA  LEI  DIVINA.»