sexta-feira, 25 de junho de 2010

11. O PRIVILÉGIO DE FALAR COM DEUS


Deus fala-nos através da Natureza, da Revelação, da Sua providência e da influência do Seu Espírito. Mas estas não são suficientes; nós precisamos também de Lhe abrir o nosso coração. A fim de termos vida e energias espirituais, devemos ter um relacionamento real com o nosso Pai Celestial. A nossa mente pode ser atraída para Ele; podemos meditar nas Suas obras, misericórdias e bênçãos; mas isto não é, no sentido pleno, comungar com Ele. Para comungarmos com Deus, devemos ter alguma coisa a dizer-Lhe a respeito da nossa vida real.

A oração é abrir o coração a Deus como a um amigo. Não que seja necessário para que Deus saiba o que somos, mas a fim de nos capacitar a recebê-l'O. A oração não nos traz Deus do alto até nós, mas eleva-nos até Ele.

Quando Jesus esteve na Terra, Ele ensinou os Seus discípulos a orar. Ele instruiu-os a apresentar as suas necessidades diárias diante de Deus, e a lançar sobre Ele todos os seus cuidados. E a certeza que Ele lhes deu, de que as suas orações seriam ouvidas, é uma certeza também para nós.

O próprio Jesus, enquanto viveu entre os homens, estava frequentemente em oração. O nosso Salvador identificou-Se com as nossas necessidades e fraquezas, pois tornou-Se um suplicante, pedindo ao Seu pai novas provisões de força, para que pudesse sair fortalecido para o dever e as provas. Ele é o nosso exemplo em todas as coisas. Ele é um irmão nas nossas doenças, "como nós, em tudo foi tentado"; mas Ele era o Ser sem pecado, e a Sua natureza revoltava-se contra o mal. Ele suportou lutas e torturas de alma num mundo de pecado. A Sua humanidade fez da oração uma necessidade e um privilégio. Ele encontrou conforto e alegria na comunhão com o Seu pai. E se o Salvador dos homens, o filho de Deus, sentiu necessidade de orar, quanto mais deviam seres mortais, fracos e pecadores, sentir a necessidade de oração fervorosa e constante.

O nosso Pai Celestial deseja derramar sobre nós a plenitude da Sua bênção. É nosso privilégio beber abundantemente na fonte do ilimitado amor. Que espanto orarmos tão pouco! Deus está pronto e disposto a ouvir a oração sincera do mais humilde dos Seus filhos; contudo, manifesta-se demasiada relutância da nossa parte em tornar conhecidas as nossas necessidades a Deus. Que podem os anjos celestiais pensar de pobres seres humanos impotentes, que estão sujeitos à tentação, quando o coração de Infinito Amor de Deus anseia por eles, pronto a dar-lhes mais do que eles podem pedir ou pensar, e todavia eles oram tão pouco e têm tão pouca fé? Os anjos gostam de prostrar-se diante de Deus; gostam de estar perto d'Ele. Eles consideram a comunhão com Deus a sua maior alegria; e os filhos da Terra, que precisam tanto da ajuda que só Deus pode dar, parecem satisfeitos em andar sem a luz do Seu Espírito, o companheirismo da Sua presença.

As trevas do maligno envolvem aqueles que negligenciam a oração. As tentações segredadas pelo inimigo seduzem-nos a pecar; e tudo isto porque eles não fazem uso dos privilégios que Deus lhes tem dado no encontro divino da oração. Porque são os filhos e as filhas de Deus tão relutantes em orar quando a oração é a chave na mão da fé para abrir o armazém do Céu, onde estão entesourados os ilimitados recursos da Omnipotência? Sem oração incessante e vigilância diligente estamos em perigo de nos tornarmos cada vez mais descuidados e de nos desviarmos do caminho certo. O adversário busca continuamente obstruir o caminho para o trono da graça, para que nós não possamos, mediante súplica fervorosa e fé, obter graça e poder para resistir à tentação.

Há certas condições para que possamos esperar que Deus oiça e responda às nossas orações. Uma das primeiras é que sintamos a nossa necessidade da Sua ajuda. Ele prometeu: "Derramarei água sobre o sedento, e riso sobre a terra seca." Isaías 44:3. Os que sentem fome e sede de justiça, que anseiam por Deus, podem estar certos de que serão satisfeitos. O coração deve abrir-se à influência do Espírito, caso contrário, a bênção de Deus não pode ser recebida.

A nossa grande necessidade é, em si mesma, um argumento e intercede eloquentemente em nosso favor. Mas devemos pedir ao Senhor para fazer estas coisas para nós. Ele diz: "Pedi, e dar-se-vos-á." Mateus 7:7. E "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também, com Ele, todas as coisas?" Romanos 8:32.

Se acariciarmos a maldade no nosso coração, se nos apegarmos a algum pecado conhecido, o Senhor não nos ouvirá; mas a oração do coração penitente e contrito é sempre ouvida. Quando todos os males conhecidos forem corrigidos, podemos crer que Deus ouvirá as nossas petições. Os nossos próprios méritos nunca nos recomendarão ao favor de Deus; é a dignidade de Jesus que nos salvará, o Seu sangue que nos purificará; todavia, temos uma obra a fazer, cumprindo com as condições de aceitação.

Outro elemento de oração vitoriosa é a fé. "É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que O buscam." Hebreus 11:6. Jesus disse aos Seus discípulos: "Tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis." Marcos 11:24. Cremos nós na Sua palavra?

A certeza é ampla e ilimitada, e Aquele que prometeu é fiel. Quando não recebemos as coisas exactas que pedimos, na altura que pedimos, devemos continuar a crer que o Senhor ouve e responderá às nossas orações. Somos tão errantes e faltos de vista que às vezes pedimos coisas que não seriam uma bênção para nós, e o nosso Pai Celestial responde, com amor, às nosssas orações, dando-nos aquilo que será para o nosso melhor bem - aquilo que nós próprios desejaríamos se, com visão divinamente iluminada, pudéssemos ver todas as coisas como elas são realmente. Quando as nossas orações parecem não ser respondidas, devemos apegar-nos à promessa, pois o tempo da resposta virá certamente, e receberemos a bênção de que mais necessitarmos. Mas pretender que a oração será sempre respondida, conforme a coisa especial que pedimos e da maneira exacta como desejamos, é presunção. Deus é demasiado sábio para errar e demasiado bom para reter qualquer coisa boa aos que andam rectamente. Portanto, não temas confiar n'Ele, ainda que não vejas a resposta imediata às tuas orações. Descansa na Sua promessa: "Pedi, e dar-se-vos-á."

Se nos aconselharmos com as nosss dúvidas e temores, ou tentarmos solucionar tudo o que não podemos ver claramente, antes de termos fé, as perplexidades apenas aumentarão e se aprofundarão. Mas, se formos a Deus, sentindo-nos impotentes e dependentes, como somos na verdade, e com humildade e confiança tornarmos conhecidas as nossas necessidades Àquele cujo conhecimento é infinito, que vê tudo na criação, e que governa tudo pela Sua vontade e palavra, Ele pode e quer atender ao nosso pedido, e fará brilhar luz no nosso coração. Mediante a oração sincera somos colocados em união com a mente do Infinito. Podemos não ter evidência alguma notável, na ocasião, de que a face do nosso Redentor está virada para nós com compaixão e amor, mas isto é assim mesmo. Podemos não sentir o Seu toque visível, mas a Sua mão está sobre nós com amor e ternura.

Quando nos aproximamos de Deus para Lhe pedir misericórdia e bênçãos, deveríamos ter um espírito de amor e perdão no nosso próprio coração. Como podemos orar: "Perdoa-nos as nossa dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores" (Mateus 6:12), e não obstante condescendermos com um espírito imperdoador? Se esperamos que as nossas próprias orações sejam ouvidas, devemos perdoar aos outros da mesma maneira e na mesma medida que esperamos ser perdoados.

A perseverança na oração é uma condição para receber. Devemos orar sempre, se quisermos crescer na fé e experiência. Devemos ser "insistentes na oração" (Romanos 12:12), "perseverar na oração, e vigiar nela com acção de graças" (Colossences 4:2). Pedro exorta os crentes a serem "sóbrios e vigiarem em oração." I Pedro 4:7. Paulo instrui: "As vossas petições sejam em tudo conhecidas, diante de Deus, pela oração e súplicas, com acção de graças." Filipenses 4:6. "Mas vós, amados", diz Judas, "orando no Espírito Santo, conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus." Judas 20, 21. A oração incessante é a união constante entre a pessoa e Deus, de maneira que a vida de Deus flui para a nossa vida; e da nossa vida reflui pureza e santidade para Deus.

Há necessidade de diligência na oração; não permitas que nada te impeça quanto a ela. Faz todo o esforço por manteres aberta a comunhão entre Jesus e o teu coração. Procura oportunidades para ires onde se vai fazer oração. Aqueles que querem realmente ter comunhão com Deus serão vistos na reunião de oração, fiéis em cumprir o seu dever e fervorosos e ansiosos em colher todos os benefícios que puderem obter. Aproveitarão toda a oportunidade para se colocarem onde possam receber os raios de luz do Céu.

Devemos orar no círculo da família, e, acima de tudo, não devemos negligenciar a oraçãos secreta, pois é ela que sustenta a nossa vida espiritual. É impossível que a espiritualidade de uma pessoa floresça se a oração for negligenciada. A oração apenas na família ou em público não é suficiente. Na solidão, permite que o teu coração se abra inteiramente ao olhar perscrutador de Deus. A oração secreta só deve ser ouvida pelo Deus que ouve as orações. Nenhum ouvido curioso deve receber o fardo de tais petições. Na oração secreta, a mente fica livre das influências do ambiente, livre da agitação. Calma, mas fervorosamente, poderá alcançar Deus. Suave e duradoura será a influência que emana d'Aquele que vê em secreto, cujo ouvido está atento para ouvir a oração brotando do coração. Mediante fé calma e simples, a pessoa entretém comunhão com Deus e reune para si mesma raios de luz divina para fortalecer e suster no conflito com Satanás. Deus é a nossa torre de fortaleza.

Ora no teu aposento e, ao saíres para te ocupares no teu trabalho diário, ergue frequentemente o teu coração a Deus.

Foi assim que Enoque andou com Deus. Estas orações silenciosas erguem-se como incenso precioso diante do trono da graça. Satanás não pode vencer aquele cujo coração está assim firme em Deus.

Não há tempo ou lugar em que seja inapropriado dirigir uma petição a Deus. Não há nada que possa impedir-nos de mantermos o nosso coração no espírito de oração fervorosa. Entre as multidões da rua, no meio duma transacção comercial, podemos fazer uma oração a Deus e rogar por guia divina, tal como Neemias quando fez o seu pedido perante o rei Artaxerxes. Podemos encontrar um lugar de comunhão onde quer que estejamos. Deveríamos ter a porta do coração aberta continuamente e o nosso convite ascendendo ao Céu para que Jesus possa vir e habitar no nosso coração como um convidado especial.

Embora possa haver uma atmosfera poluída e corrompida ao nosso redor, não precisamos de respirar os seus miasmas, mas podemos viver no ar puro do céu. Podemos fechar todas as portas a imaginações impuras e pensamentos não santificados, se erguermos a mente à presença de Deus por meio da oração sincera. Aqueles cujo coração está aberto para receber o apoio e a bênção de Deus, andarão numa atmosfera mais santa do que a Terra e terão constante comunhão com o Céu.

Precisamos de ter perspectivas mais claras de Jesus e uma compreensão mais plena do valor das realidades eternas. A beleza da santidade deve encher o coração dos filhos de Deus; e, para que isto possa acontecer, deveríamos pedir a Deus revelações divinas de coisas celestiais.

Que o nosso coração se abra e se eleve, para que Deus possa conceder-nos um vislumbre da atmosfera celestial. Podemos manter-nos tão perto de Deus que em toda a inesperada provação os nossos pensamentos se voltem para Ele tão naturalmente como a flor se volta para o sol.

Leva as tuas necessidades, alegrias, tristezas, cuidados e temores a Deus. Tu não O sobrecarregas; não O fatigas. Aquele que conta os cabelos da tua cabeça não é indiferente às necessidades dos Seus filhos. "O Senhor é muito misericordioso e piedoso." Tiago 5:11. O Seu coração de amor é tocado pelas nossas tristezas e até pela nossa referência a elas. Nada é grande de mais para Ele suportar, pois Ele sustém os mundos e governa sobre todos os assuntos do Universo. Nada do que diz respeito à nossa paz é demasiado pequeno para Ele. Não há capítulo demasiado negro na nossa existência que Ele não leia; não há dificuldade demasiado difícil que Ele não solucione. Nenhuma calamidade cai sobre o mais pequeno dos Seus filhos, nenhuma ansiedade perturba o coração, nenhum regozijo feliz, nenhuma oração sincera escapa dos lábios, que o nosso Pai Celestial não observe, ou pelos quais não Se interesse imediatamente. "Ele sara os quebrantados de coração, e liga-lhes as feridas." Salmos 147:3. As relações entre Deus e cada pessoa são tão distintas e plenas como se não houvesse outra sobre a Terra para ser alvo do Seu cuidado vigilante, nenhuma outra pessoa por quem Ele deu o Seu amado Filho.

Jesus disse: "Pedireis em Meu nome, e não vos digo que rogarei por vós ao Pai; pois o mesmo Pai vos ama." "Eu vos escolhi a vós, ... a fim de que, tudo quanto em Meu nome pedirdes ao Pai, Ele vo-lo conceda." João 16:26, 27; 15:16. Mas orar no nome de Jessus é algo mais do que a mera menção desse nome no princípio e no fim de uma oração. É orar com a mente e o espírito de Jesus, ao mesmo tempo em que cremos nas Suas promessas, descansamos na Sua graça e fazemos as Suas obras.

Deus não pretende que qualquer de nós se torne eremita ou monge e se retire do mundo, a fim de se dedicar somente à adoração. A vida deve ser como a vida de Cristo - entre as montanhas e as multidões. Aquele que nada mais faz senão orar, em breve cessa de orar, ou as suas orações se tornam uma rotina formal. Quando os homens se retiram da vida social, da esfera do dever cristão e de carregar a cruz; quando deixam de trabalhar fervorosamente para o Mestre, que trabalhou fervorosamente para eles, perdem o objectivo essencial da oração e não têm qualquer incentivo para a devoção. Não conseguem orar, pedindo forças para trabalhar para o bem da humanidade e para a edificação do reino de Cristo.

Perdemos quando negligenciamos o privilégio de nos associarmos para nos fortalecermos e encorajarmos uns aos outros no serviço de Deus. As verdades da Sua palavra perdem a sua vivacidade e importância na nossa mente. O nosso coração deixa de ser iluminado e despertado pela sua influência santificadora, e nós decaímos em espiritualidade. Nas nossas relações como cristãos, perdemos muito por falta de simpatia de uns para com os outros. Aquele que se fecha em si mesmo não está a preencher a posição que Deus lhe designou que ocupasse. O próprio cultivo dos elementos sociais da nossa natureza leva-nos a simpatizar com outros e é um meio de nos desenvolver e fortalecer para o serviço de Deus.

Se os cristãos se reunissem, falando uns aos outros do amor de Deus e das preciosas verdades da redenção, o seu próprio coração seria refrescado e eles refrescar-se-iam uns aos outros. Podemos estar a aprender mais diariamente sobre o nosso Pai Celestial, obtendo uma experiência recente da Sua graça; então, desejaremos falar do Seu amor; e, ao fazermos isto, o nosso próprio coração será aquecido e encorajado. Se pensássemos e falássemos mais de Jesus, e menos do eu, usufruiríamos muito mais da Sua presença.

Se pensássemos em Deus tão frequentemente como temos evidência do Seu cuidao por nós, mantê-l'O-íamos sempre nos nossos pensamentos e deleitar-nos-íamos em falar d'Ele e louvá-l'O. Nós falamos de coisas temporais porque temos interesse nelas. Falamos dos nossos amigos porque os amamos; as nossas alegrias e tristezas estão ligadas com eles. Todavia, temos razão infinitamente maior para amar mais a Deus do que aos nossos amigos terrestres; deveria ser a coisa mais natural do mundo colocá-l'O em primeiro lugar em todos os nossos pensamentos, falar da Sua bondade e testificar do Seu poder. As ricas dádivas que Ele nos tem concedido não se destinam a absorver tanto os nossos pensamentos e amor de modo que nada tenhamos para dar a Deus; elas devem servir para nos lembrarmos constantemente d'Ele e nos ligarmos com laços de amor e gratidão para com o nosso Benfeitor Celestial. Vivemos demasiado perto dos terrenos baixos da Terra. Ergamos os nossos olhos para a porta aberta do Santuário Celeste, onde a glória de Deus brilha na face de Cristo, que "pode também salvar, perfeitamente, os que por Ele se chegam a Deus." Hebreus 7:25.

Precisamos de louvar mais a Deus "pela Sua bondade e pelas Suas maravilhas para com os filhos dos homens." Salmos 107:8. Os nossos exercícios devocionais não deveriam consistir só em pedir e receber. Não estejamos sempre a pensar nas nossas necessidades e nunca nos benefícios que recebemos. Nenhum de nós ora demais, e somos demasiado tacanhos em dar graças. Nós somos os recipientes constantes das misericórdias de Deus, todavia quão pouca gratidão expressamos, quão pouco O louvamos por aquilo que Ele tem feito por nós.

Antigamente, o Senhor ordenou a Israel, quando se reunissem para o Seu serviço: "E ali comereis perante o Senhor, o vosso Deus, e vos alegrareis em tudo em que poreis a vossa mão, vós e as vossas casas, no que te abençoar o Senhor teu Deus." Deuteronómio 12:7. Aquilo que é feito para a glória de Deus, deve ser feito com alegria, com cânticos de louvor e acção de graças e não com tristeza e melancolia.

O nosso Deus é um Pai terno e misericordioso. O Seu serviço não deveria ser olhado como triste e penoso ao coração. Deveria ser um prazer adorar o Senhor e tomar parte na Sua obra. Deus não deseja que os Seus filhos, para quem providenciou tão grande salvação, ajam como se Ele fosse um capataz duro e exactor. Ele é o seu melhor amigo; e quando O adoram, Ele quer estar com eles, para os abençoar e confortar, enchendo o seu coração de alegria e amor. O Senhor deseja que os Seus filhos encontrem conforto em servi-l'O e mais prazer do que dificuldades ao realizarem o Seu trabalho. Ele deseja que os que vão adorá-l'O levem com eles preciosos pensamentos do Seu cuidado e amor, para que possam ser animados em todos os empreendimentos da vida diária, e recebam a graça necessária para lidar honesta e fielmente com todas as coisas.

Devemos reunir-nos á volta da cruz. Cristo, e Ele crucificado, deveria ser o tema de contemplação, de conversação e da nossa mais alegre emoção. Devíamos conservar nos nossos pensamentos cada bênção que recebemos de Deus e, quando reconhecemos o Seu grande amor, deveríamos estar dispostos a confiar tudo nas mãos que foram pregadas na cruz por nós.

O coração pode chegar mais perto do Céu através do louvor. Deus é adorado com cânticos e música nas cortes do alto e, ao expressarmos a nossa gratidão, estamos a aproximar-nos do culto das hostes celestiais. "Aquele que oferece louvor glorifica" a Deus (Salmos 50:23). Vamos, pois, com reverente alegria perante o nosso Criador, com "acções de graças e voz de melodia." Isaías 51:3.


«A  ORAÇÃO  É  ABRIR  O  CORAÇÃO  A  DEUS  COMO  A  UM  AMIGO.
NÃO  QUE  SEJA  NECESSÁRIO  PARA  QUE  DEUS  SAIBA  O  QUE  SOMOS,
MAS  A  FIM  DE  NOS  CAPACITAR  A  RECEBÊ-L'O


«A  ORAÇÃO  NÃO  NOS  TRAZ  DEUS  DO  ALTO  ATÉ  NÓS,
MAS  ELEVA-NOS  ATÉ  ELE.»


«A  ORAÇÃO  É  A  CHAVE  NA  MÃO  DA  FÉ
PARA  ABRIR  O  ARMAZÉM  DO  CÉU,
ONDE  ESTÃO  ENTESOURADOS  OS  ILIMITADOS  RECURSOS  DA  OMNIPOTÊNCIA.»


«DEUS  ESTÁ  PRONTO  E  DISPOSTO  A  OUVIR  A  ORAÇÃO  SINCERA
DO  MAIS  HUMILDE  DOS  SEUS  FILHOS.»


«QUANDO  AS  NOSSAS  ORAÇÕES  PARECEM  NÃO  SER  RESPONDIDAS,
DEVEMOS  APEGAR-NOS  À  PROMESSA,  POIS  O  TEMPO  DA  RESPOSTA  VIRÁ  CERTAMENTE,
E  RECEBEREMOS  A  BÊNÇÃO  DE  QUE  MAIS  NECESSITARMOS.»


«SE  PENSÁSSEMOS  EM  DEUS
TÃO  FREQUENTEMENTE  COMO  TEMOS  EVIDÊNCIA  DO  SEU  CUIDADO  POR  NÓS,
MANTÊ-L'O-ÍAMOS  SEMPRE  NOS  NOSSOS  PENSAMENTOS
E  DELEITAR-NOS-ÍAMOS  EM  FALAR  D'ELE  E  LOUVÁ-L'O

sexta-feira, 18 de junho de 2010

10. O DEUS QUE EU CONHEÇO


Muitos são os modos pelos quais Deus procura revelar-Se a nós e levar-nos à comunhão com Ele. A Natureza fala aos nossos sentidos sem cessar. O coração receptivo será impressionado com o amor e a glória de Deus, como são revelados pelas obras das Suas mãos. O ouvido atento pode ouvir e compreender as comunicações de Deus através das coisas da Natureza. Os campos verdes, as árvores altaneiras, os rebentos e as flores, a nuvem que passa, a chuva que cai, o ribeiro murmurante, as glórias dos céus, falam ao nosso coração, e convidam-nos a tornar-nos familiarizados com Aquele que a todos criou.

O nosso Salvador relacionou as Suas lições com as coisas da Natureza. As árvores, os pássaros, as flores dos vales, os montes, os lagos e os belos céus, assim como os incidentes e as circunstâncias da vida diária, estavam todos ligados com as palavras da verdade, para que as Suas lições pudessem assim ser lembradas frequentemente, mesmo no meio dos maiores cuidados da vida e da labuta do homem.

Deus queria que os Seus filhos apreciassem as Suas obras e se deleitassem na beleza simples e tranquila com que Ele adornou o nosso lar terrestre. Ele á um amante do belo, mas, para além do que é exteriormente atraente, Ele ama a beleza de carácter; Ele deseja que cultivemos a pureza e a simplicidade - as suaves virtudes das flores.

Se estivermos atentos, as obras criadas por Deus ensinar-nos-ão lições preciosas de obediência e confiança. Desde as estrelas que, nos seus cursos sem deixar rasto através do espaço, seguem de século em século as suas designadas veredas, até ao minúsculo átomo, as coisas da Natureza obedecem à vontade do Criador. E Deus cuida de tudo e sustém tudo o que criou. Aquele que sustém os inumeráveis mundos através da imensidão, cuida, ao mesmo tempo, das necessidades do pequeno pardal que canta, sem temor, a sua humilde canção. Quando os homens vão para as suas labutas diárias, assim como quando se empenham em oração; quando se deitam à noite, e quando se levantam de manhã; quando o rico festeja no seu palácio, ou o homem pobre reúne os seus filhos à volta da escassa mesa, cada um é observado ternamente pelo Pai Celestial. Nenhuma lágrima é vertida sem que Deus note. Não há sorriso algum em que Ele não repare.

Se nós crêssemos simplesmente nisto, todas as ansiedades indevidas seriam dissipadas. A nossa vida não seria tão cheia de desapontamento como agora é; pois tudo, quer grande, quer pequeno, seria deixado nas mãos de Deus, que não fica perplexo com a multiplicidade de cuidados, ou abatido pelo seu peso. Desfrutaríamos então de uma paz que muitos desconhecem.

À medida que os teus sentidos se deleitam na atraente beleza da Terra, pensa no mundo que está para vir, que nunca conhecerá a ruína do pecado e da morte; onde a face da Natureza nunca mais exibirá a sombra da maldição. Procura imaginar o lar dos salvos e lembra-te de que ele será mais glorioso do que a tua mais brihante imaginação pode retratar. Nas variadas dádivas de Deus na Natureza, nós não vemos senão o mais fraco brilho da Sua glória. Está escrito: "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam." I Coríntios 2:9.

O poeta e o naturalista têm muitas coisas a dizer acerca da Natureza, mas é o cristão que desfruta da beleza da Terra com o mais elevado apreço, porque reconhece a obra do Seu Pai e percebe o Seu amor na flor, no arbusto e na árvore. Ninguém pode apreciar plenamente o significado de montes e vales, rios e mares, se não os admirar como uma expressão do amor de Deus pelo homem.

Deus fala-nos mediante as Suas obras providenciais e pela influência do Seu Espírito sobre o coração. Nas nossas circunstâncias e incidentes, nas mudanças que têm lugar diariamente ao nosso redor, podemos encontrar lições preciosas, se o nosso coração estiver aberto para as discernir. O salmista, descrevendo o trabalho da providência de Deus, diz: "A Terra está cheia da bondade do Senhor." "Quem é sábio observe estas coisas, e considere atentamente as benignidades do Senhor." Salmos 33:5; 107:43.

Deus fala-nos através da Sua Palavra. Aqui temos, em linhas mais claras, a revelação do Seu carácter, do Seu procedimento com os homens, e a grande obra da redenção. Aqui, abre-se perante nós a história dos patriarcas e profetas e de outros homens santos da antiguidade. Eles foram homens "sujeitos às mesmas paixões que nós." Tiago 5:17. Vemos como eles lutaram com desencorajamentos como os nossos, como eles caíram sob tentações como nós, porém, animaram-se de novo e venceram pela graça de Deus; e, contemplando, somos encorajados no nosso esforço para alcançar a justiça. Quando lemos as preciosas experiências que lhes foram concedidas, a luz, o amor e as bênçãos de que desfrutaram, e o trabalho que realizaram pela graça que lhes foi dada, o Espírito que os inspirou acende uma chama no nosso coração e um desejo de sermos como eles no carácter - como eles, para andarmos com Deus.

Jesus disse das Escrituras do Velho Testamento - e ainda é mais verdadeiro no Novo - "São elas que de Mim testificam" (João 5:39), d'Ele, o Redentor, Aquele em quem as nossas esperanças de vida eterna estão centradas. Sim, toda a Bíblia fala de Cristo. Desde o primeiro relato da criação - porque "sem Ele, nada do que foi feito se fez" (João 1:3) - até à promessa final, - "Eis que cedo venho" (Apocalipse 22:12) - lemos acerca das Suas obras e ouvimos a Sua voz. Se te quiseres familiarizar com o Salvador, estuda as Sagradas Escrituras.

Enche o teu coração com as palavras de Deus. Elas são a água da vida, para saciar a tua sede ardente. Elas são o pão da vida proveniente do Céu. Jesus declara: "Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos." E Ele explica-Se, dizendo: "As palavras, que Eu vos disse, são espírito e vida." João 6:53, 63. O nosso corpo é formado por aquilo que comemos e bebemos; e assim como acontece na ordem natural, assim acontece na espiritual: é aquilo em que meditamos que dará tom e vigor à nossa natureza espiritual.

O tema da redenção é um dos que os anjos desejam examinar; ele será a ciência e o cântico dos remidos através das intermináveis eras da eternidade. Não é ele digno de cuidadosa meditação e estudo agora? A misericórdia e o amor infinitos de Jesus, o sacrifício que Ele fez em nosso favor, apelam à mais séria e solene reflexão. Devemos demorar-nos sobre o carácter do nosso querido Redentor e Intercessor. Devemos meditar sobre a missão d'Aquele que veio para salvar o Seu povo dos seus pecados. Ao contemplarmos temas celestiais, a nossa fé e o nosso amor crescerão mais fortes, e as nossas orações serão mais e mais aceitáveis a Deus, porque elas serão mais e mais misturadas com fé e amor. Elas serão inteligentes e fervorosas. Haverá mais constante confiança em Jesus, e uma viva experiência diária no Seu poder para salvar completamente todos os que vão a Deus por Ele.

Ao meditarmos nas perfeições do Salvador, desejaremos ser totalmente transformados e renovados à imagem da Sua pureza. Haverá uma fome e sede de nos tornarmos semelhantes Àquele a Quem adoramos. Quanto mais os nossos pensamentos se demorarem em Cristo, mais falaremos d'Ele aos outros e O representaremos perante o mundo.

A Bíblia não foi escrita apenas para os eruditos; pelo contrário, foi destinada ao povo comum. As grandes verdades necessárias à salvação são tornadas tão claras como o meio-dia; e ninguém errará ou perderá o seu caminho, a não ser aqueles que seguirem o seu próprio juízo, em vez da vontade de Deus claramente revelada.

Não devemos aceitar o testemunho de nenhum homem acerca do que ensinam as Escrituras, antes devemos estudar as palavras de Deus por nós mesmos. Se consentirmos que outros pensem por nós, teremos energias deficientes e aptidões diminuídas. As faculdades nobres da mente podem ser de tal modo atrofiadas por falta de exercício sobre temas dignos da sua concentração que venham a perder a sua capacidade de captar o significado profundo da Palavra de Deus. A mente expandir-se-á se for empregada em investigar a relação dos temas da Bíblia, comparando texto com texto e coisas espirituais com coisas espirituais.

Não há nada mais apropriado para fortalecer o intelecto do que o estudo das Escrituras. Nenhum outro livro é tão potente para elevar os pensamentos, dar vigor às faculdades, como as amplas e nobres verdades da Bíblia. Se a Palvra de Deus fosse estudada como deveria, os homens teriam uma amplitude de mente, uma nobreza de carácter e uma estabilidade de propósito raramente vistas nestes tempos.

Mas muito pouco benefício se obtém de um estudo apressado das Escrituras. Uma pessoa pode ler toda a Bíblia e, não obstante, deixar de ver a sua beleza ou compreender o seu significado profundo e oculto. O estudo de uma passagem até que o seu significado seja claro à mente e a sua relação com o plano da salvação seja evidente, é de mais valor do que a leitura de muitos capítulos sem nenhum propósito definido em vista e nenhuma instrução positiva alcançada. Mantém a tua Bíblia contigo. Ao teres oportunidade, lê-a; fixa os textos na tua memória. Mesmo quando estás a andar na rua podes ler uma passagem e meditar nela, fixando-a assim na mente.

Não podemos obter sabedoria sem sincera atenção e estudo com oração. Algumas porções das Escrituras são, de facto, demasiado claras para serem mal compreendidas, mas há outras cujo significado não está à superfície, de modo a poder ser visto numa olhadela rápida. Texto deve ser comparado com texto. Deve haver cuidadosa pesquisa e reflexão com oração. E tal estudo será ricamente recompensado. Assim como o mineiro descobre veios de metal precioso escondidos debaixo da superfície de terra, assim acontece com o que procura perseverantemente a Palavra de Deus como a tesouros escondidos, pois encontra verdades do maior valor, que estão escondidos da vista do pesquisador descuidado. As palavras da Inspiração, ponderadas no coração, serão como correntes fluindo da fonte da vida.

A Bíblia nunca deve ser estudada sem oração. Antes de abrirmos as suas páginas, devemos pedir a iluminação do Espírito Santo e ela será dada. Quando Natanael foi a Jesus, o Salvador exclamou: "Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo." Natanael disse-Lhe: "De onde me conheces Tu?" Jesus respondeu-lhe: "Antes que Filipe te chamasse, te vi Eu, estando tu debaixo da figueira." João 1:47, 48. E Jesus também nos vê nos lugares secretos da oração, se nós O buscarmos para obtermos luz a fim de sabermos o que é a verdade. Anjos do mundo da luz estarão com os que, em humildade de coração, procurarem a guia divina.

O Espírito Santo exalta e glorifica o Salvador. É Sua função apresentar Cristo, a pureza da Sua justiça, e a grande salvação que nós temos através d'Ele. Jesus diz: "Ele ... há-de receber do que é Meu, e vo-lo há-de anunciar." João 16:14. O Espírito de verdade é o único professor eficaz da verdade divina. Quanto Deus deve estimar a raça humana ao ponto de ter dado o Seu Filho para morrer por ela e designar o Espírito Santo para ser o professor do homem e seu guia continuamente!

«SE  ESTIVERMOS  ATENTOS,
AS  OBRAS  CRIADAS  POR  DEUS
ENSINAR-NOS-ÃO  LIÇÕES  PRECIOSAS  DE  OBEDIÊNCIA  E  CONFIANÇA.»


«NINGUÉM  PODE  APRECIAR  PLENAMENTE  O  SIGNIFICADO
DE  MONTES  E  VALES,  RIOS  E  MARES,
SE  NÃO  OS  ADMIRAR  COMO  UMA  EXPRESSÃO  DO  AMOR  DE  DEUS  PELO  HOMEM.»


«ENCHE TODO O CORAÇÃO COM AS PALAVRAS DE DEUS.
ELAS SÃO A ÁGUA DA VIDA, PARA SACIAR A TUA SEDE ARDENTE.»


«NÃO DEVEMOS ACEITAR O TESTEMUNHO DE NENHUM HOMEM
ACERCA DO QUE ENSINAM AS ESCRITURAS,
ANTES DEVEMOS ESTUDAR AS PALAVRAS DE DEUS POR NÓS MESMOS.»


«SE A PALAVRA DE DEUS FOSSE ESTUDADA COMO DEVERIA,
OS HOMENS TERIAM UMA AMPLITUDE DE MENTE,
UMA NOBREZA DE CARÁCTER E UMA ESTABILIDADE DE PROPÓSITO
RARAMENTE VISTAS NESTES TEMPOS.»


sexta-feira, 11 de junho de 2010

9. ACTIVIDADE E VIDA


Deus é a fonte da vida, luz e alegria do Universo. Como raios de luz do Sol, como correntes de água brotando duma fonte viva, bênçãos fluem d'Ele para todas as Suas criaturas. E, sempre que a vida de Deus estiver no coração dos homens, ela fluirá para outros em amor e bênçãos.

A alegria do nosso Salvador encontrava-se no erguer e redimir de homens caídos. Para este fim, Ele não considerou a Sua vida como preciosa, mas suportou a cruz, desprezando a afronta. Do mesmo modo, os anjos estão sempre empenhados em trabalhar pela felicidade de outros. Este é o seu objectivo. Aquilo que corações egoístas considerariam como serviço humilhante, ajudar os que são miseráveis e em vários aspectos inferiores no carácter e posição, é a obra de anjos sem pecado. O espírito do amor abnegado de Cristo é o espírito que permeia o céu e é a própria essência da sua felicidade. Este é o espírito que os seguidores de Cristo possuirão, a obra que farão.

Quando o amor de Cristo está entronizado no coração, tal como um perfume suave, não pode ficar escondido. A sua santa influência será sentida por todos aqueles com quem entrarmos em contacto. O Espírito de Cristo no coração é como uma fonte no deserto, fluindo para refrescar a todos e tornando ansiosos por beber da água da vida aqueles que estão prestes a perecer.

O amor a Jesus será manifestado num desejo de trabalhar como Ele trabalhou para abençoar e erguer a humanidade. Isso levará ao amor, ternura e simpatia por todas as criaturas do nosso Pai Celestial.

A vida do Salvador na Terra não foi uma vida fácil e de devoção ao eu. Ele trabalhou com esforço persistente, fervoroso e incansável pela salvação da humanidade perdida. Da manjedoura ao Calvário, Ele seguiu a vereda da abnegação e não procurou ser dispensado de tarefas árduas, viagens dolorosas e cuidado e labor exaustivos. Ele disse: "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a Sua vida em resgate de muitos." Mateus 20:28. Este foi o único grande objectivo da Sua vida. Tudo o mais era secundário e subserviente. A Sua comida e bebida era fazer a vontade de Deus e concluir a Sua obra. O eu e o interesse próprio não tinham parte alguma no Seu trabalho.

Do mesmo modo, aqueles que são participantes da graça de Cristo, estarão dispostos a fazer qualquer sacrifício, a fim de que outros por quem Ele morreu possam partilhar da dádiva celestial. Farão tudo o que puderem para tornar o mundo melhor com a sua estadia nele. Este espírito é o resultado certo duma alma verdadeiramente convertida. Logo que uma pessoa vai a Cristo, nasce no seu coração um desejo de tornar conhecido a outros o precioso amigo que encontrou em Jesus; a verdade salvadora e santificadora não pode ficar fechada no seu coração. Se estivermos vestidos com a justiça de Cristo e cheios de alegria com a habitação do Seu espírito em nós, não nos será possível ficar calados. Se tivermos experimentado e visto que o Senhor é bom, teremos alguma coisa a dizer. Como Filipe quando encontrou o Salvador, nós convidaremos outros para virem à Sua presença. Procuraremos apresentar-lhes os atractivos de Cristo e as realidades não vistas do mundo futuro. Haverá um desejo intenso de seguir no caminho que Jesus percorreu. Haverá um anseio fervoroso de que os que estão à nossa volta possam contemplar "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29.

E o esforço para abençoar outros reverterá em bênçãos sobre nós mesmos. Foi este o propósito de Deus ao dar-nos uma parte a desempenhar no plano da redenção. Ele concedeu aos homens o privilégio de serem participantes da natureza divina e, por sua vez, de difundirem bênçãos junto dos seus semelhantes. Esta é a mais elevada honra, a maior alegria, que é possível a Deus conferir aos homens. Os que assim se tornarem participantes em trabalhos de amor são trazidos para mais perto do seu Criador.

Deus podia ter conferido a mensagem do evangelho, e todo o trabalho de ministério amoroso, aos anjos celestiais. Ele podia ter empregado outros meios para executar o Seu propósito. Mas, no Seu infinito amor, Ele escolheu tornar-nos cooperadores com Ele, com Cristo e os anjos, a fim de podermos partilhar da bênção, alegria e erguimento espiritual, que resultam deste ministério altruísta.

Somos levados a simpatizar com Cristo mediante a comunhão com os Seus sofrimentos. Cada acto de abnegação pelo bem dos outros fortalece o espírito de benevolência no coração do doador, aliando-o mais intimamente com o Redentor do mundo, que "sendo rico, por amor de vós Se fez pobre, para que pela Sua pobreza enriquecêsseis." II Coríntios 8:9. E é só quando assim cumprimos o propósito divino na nossa criação que a vida pode ser uma bênção para nós.

Se tu fores trabalhar, como Cristo quer que os Seus discípulos trabalhem, e ganhares pessoas para Ele, sentirás a necessidade de uma experiência mais profunda e de um conhecimento maior nas coisas divinas, e sentirás fome e sede de justiça. Instarás com Deus, e a tua fé será fortalecida, e a tua alma beberá abundantemente da fonte da salvação. Ao enfrentares oposição e provas, isso levar-te-á ao estudo da Bíblia e à oração. Crescerás em graça e no conhecimento de Cristo, e desenvolverás uma rica experiência.

O espírito do trabalho altruísta dá ao carácter profundidade, estabilidade e amabilidade semelhantes ao carácter de Cristo, e traz paz e felicidade ao seu possuidor. As aspirações são elevadas. Não há lugar para a preguiça ou o egoísmo. Os que assim exercitam as graças cristãs crescerão e se fortalecerão para trabalharem para Deus. Terão claras percepções espirituais, uma firme e crescente fé, e um aumento no poder da oração. O Espírito de Deus, operando no seu espírito, desperta as harmonias sagradas da alma em resposta ao toque divino. Os que assim se dedicam a um esforço pelo bem dos outros estão muito seguramente a trabalhar para a sua própria salvação.

O único caminho para crescer na graça é estarmos a fazer desinteressadamente o trabalho que Cristo nos ordenou - empenhar-nos, na medida da nossa capacidade, em ajudar e abençoar aqueles que precisam da ajuda que nós lhes podemos dar. A força vem pelo exercício; a actividade é a condição própria da vida. Os que procuram manter a vida cristã aceitando passivamente as bênçãos que vêm através dos meios da graça, nada fazendo por Cristo, estão simplesmente a tentar viver comendo sem trabalhar. E no mundo espiritual, como no natural, isto resulta sempre em degeneração e decadência. Um homem que recusasse exercitar os seus membros perderia em breve a capacidade de os usar. Assim, o cristão que não exercita as faculdades que Deus lhe deu, não só falha em crescer em Cristo, como perde a força que já tinha.

A Igreja de Cristo é a agência designada por Deus para a salvação de homens. A sua missão é levar o evangelho ao mundo. E a obrigação repousa sobre todos os cristãos. Cada um, na medida dos seus talentos e das suas oportunidades, deve cumprir a missão dada pelo Salvador. O amor de Cristo, que nos foi revelado, torna-nos devedores a todos aqueles que não O conhecem. Deus deu-nos luz, não só para nós mesmos, mas para a derramarmos sobre eles.

Se os seguidores de Cristo estivessem despertos para o dever, onde agora há só um, haveria milhares a proclamar o evangelho em terras pagãs. Todos aqueles que não pudessem empenhar-se pessoalmente no trabalho, sustentá-lo-iam, não obstante, com os seus recursos, a sua simpatia e as suas orações. E haveria muito mais trabalho fervoroso pelas pessoas em países cristãos.

Não precisamos de ir a terras pagãs, ou nem sequer de deixar o pequeno círculo do lar, se é aí que reside o nosso dever, a fim de trabalharmos para Cristo. Podemos fazê-lo no círculo do lar, na igreja, entre aqueles com quem nos associamos e com quem temos relações comerciais.

A maior parte da vida do Salvador na Terra foi passada a trabalhar, particularmente na carpintaria de Nazaré. Anjos ministradores acompanhavam o Senhor da vida, enquanto Ele caminhava lado a lado com os camponeses operários, irreconhecido e não honrado. Ele estava tão fielmente cumprindo a Sua missão enquanto trabalhava no seu humilde ofício, como quando curava os doentes ou andava sobre as ondas encapeladas do mar da Galileia. Assim, nos mais humildes deveres e nas posições mais baixas da vida, podemos andar e trabalhar com Jesus.

O apóstolo diz: "Cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado." I Coríntios 7:24. O comerciante pode conduzir o seu negócio de maneira a glorificar o seu Mestre pela sua fidelidade. Se ele for um verdadeiro seguidor de Cristo, levará a sua religião para tudo o que fizer e revelará aos homens o espírito de Cristo. O mecânico pode ser um diligente e fiel representante d'Aquele que labutou nos humildes caminhos da vida entre os montes da Galileia. Todo aquele que profere o nome de Cristo deve trabalhar, de tal modo que outros, ao verem as suas boas obras, possam ser levados a glorificar o seu Criador e Redentor.

Muitos têm-se desculpado de não consagrarem os seus dons ao serviço de Cristo, porque outros possuem talentos e vantagens superiores. Tem prevalecido a opinião de que apenas aos que são especialmente talentosos, lhes é requerido consagrar as suas aptidões ao serviço de Deus. Muitos acham que os talentos são dados apenas a uma certa classe favorecida, com exclusão de outros que, certamente, não são chamados a participar das labutas ou das recompensas. Mas não é assim que está representado na parábola. Quando o senhor da casa chamou os seus servos, ele deu a cada um a sua obra.

Com um espírito amoroso podemos realizar os deveres mais humildes da vida "como ao Senhor." Colossenses 3:23. Se o amor de Deus estiver no coração, Ele será manifestado na vida. A suave influência de Cristo circundar-nos-á, habilitando-nos a elevar outros.

Tu não deves esperar grandes ocasiões ou esperar aptidões extraordinárias antes de ires trabalhar para Deus. Não precisas de pensar no que o mundo pensará de ti. Se a tua vida diária é um testemunho da pureza e sinceridade da tua fé, e outros estiverem convencidos de que tu desejas ajudá-los, os teus esforços não serão totalmente perdidos.

Os mais humildes e pobres dos discípulos de Jesus podem ser uma bênção para outros. Podem não se aperceber de que estão a fazer algum bem especial, mas pela sua inconsciente influência podem dar origem a grandes bênçãos que se alargarão e aprofundarão, e eles podem nunca conhecer os maravilhosos resultados até ao dia da recompensa final. Eles não sentem nem sabem que estão a fazer alguma coisa importante. Não lhes é pedido que se preocupem com o êxito. Eles precisam apenas de avançar tranquilamente, fazendo fielmente o trabalho que a providência de Deus designa, e a sua vida não será em vão. Crescerão cada vez mais à semelhança de Cristo; eles são obreiros juntamente com Deus nesta vida, e estão assim a capacitar-se para o trabalho mais elevado e para sentirem a alegria completa da vida por vir.



«O  AMOR  A  JESUS  SERÁ  MANIFESTADO  NUM  DESEJO
DE  TRABALHAR  COMO  ELE  TRABALHOU  PARA  ABENÇOAR  E  ERGUER  A  HUMANIDADE.»


«O  ESPÍRITO  DE  TRABALHO  ALTRUÍSTA
DÁ  AO  CARÁCTER  PROFUNDIDADE,  ESTABILIDADE  E  AMABILIDADE
SEMELHANTES  AO  CARÁCTER  DE  CRISTO,
E  TRAZ  PAZ  E  FELICIDADE  AO  SEU  POSSUIDOR.»

terça-feira, 8 de junho de 2010

8. CRESCIMENTO EM CRISTO


A mudança de coração pela qual nos tornamos filhos de Deus chama-se, na Bíblia, nascimento. Por outro lado, é comparada à germinação da semente boa que o lavrador semeou. Do mesmo modo, os que acabaram de se converter a Cristo são "como bebés recém-nascidos", para "crescerem" até à estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus (I Pedro 2:2; Efésios 4:15). Ora, como a boa semente semeada no campo, eles devem crescer e dar fruto. Isaías diz que eles "serão chamados árvores de justiça, a plantação do Senhor, para que Ele possa ser glorificado." Isaías 61:3. Desta maneira, são retiradas ilustrações da vida natural, para nos ajudar a compreender melhor as verdades misteriosas da vida espiritual.

Toda a sabedoria e aptidão do homem não conseguem produzir vida no mais pequeno objecto da Natureza. É somente mediante a vida que o próprio Deus concedeu que tanto animais como plantas podem viver. Do mesmo modo, é somente mediante a vida de Deus que a vida espiritual é gerada no coração dos homens. A não ser que um homem seja "nascido de cima", ele não pode tornar-se participante da vida que Cristo veio para dar (João 3:3).

Tal como acontece com a vida, acontece com o crescimento. É Deus quem faz desabrochar o botão e frutificar a flor. É pelo Seu poder que se desenvolve a semente, "primeiro a haste, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga." Marcos 4:28. E o profeta Oseias diz de Israel que "ele florescerá como o lírio". "Serão vivificados como o trigo, e florescerão como a vide." Oseias 14:5, 7. E Jesus ordena-nos: "Considerai os lírios, como eles crescem." Lucas 12:27. As plantas e as flores crescem não pelo seu próprio cuidado ou ansiedade ou esforço, mas por receberem aquilo que Deus forneceu para sustentar a sua vida. A criança não pode, por qualquer desejo ou capacidade próprios, acrescentar nada à sua estatura. Nem tão pouco o podes tu, por ansiedade ou esforço de ti mesmo, assegurares crescimento espiritual. A planta e a criança, crescem por receberem do seu ambiente aquilo que é indispensável à sua vida - ar, luz solar e alimento. O que estas dádivas da Natureza são para os animais e as plantas, assim é Cristo para aqueles que confiam n'Ele. Ele é a tua "luz perpétua", "um sol e escudo" (Isaías 60:19; Salmos 84:11). Ele será como "orvalho para Israel" (Oseias 14:5). "Ele descerá como a chuva sobre a erva ceifada" (Salmos 72:6). Ele é a água viva, "o Pão de Deus... que desce do Céu e dá vida ao mundo" (João 6:33).

Na incomparável dádiva do Seu Filho, Deus circundou todo o mundo com uma atmosfera de graça tão real como o ar que circula ao redor do globo. Todos os que escolherem respirar esta atmosfera doadora de vida viverão e crescerão até à estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus.

Assim como a flor se vira para o Sol, para que os seus raios brilhantes possam ajudá-la na sua beleza e simetria, assim devemos nós virar-nos para o Sol da Justiça, para que a luz celestial possa brilhar sobre nós, para que o nosso carácter se possa desenvolver à semelhança do de Cristo.

Jesus ensina a mesma coisa, quando diz: "Estai em Mim, e Eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim. ... Sem Mim nada podeis fazer." João 15:4, 5. Tu és tão dependente de Cristo, para viveres uma vida santa, como o ramo o é da árvore mãe para crescer e dar fruto. Fora d'Ele não tens vida alguma. Não tens poder algum para resistires à tentação ou para cresceres em graça e santidade. Permanecendo n'Ele, tu podes florescer. Recebendo a tua vida d'Ele, tu não murcharás ou ficarás infrutífero. Serás como uma árvore plantada junto a rios de água.

Muitos têm a ideia de que devem fazer uma parte do trabalho sozinhos. Confiaram em Cristo para o perdão dos pecados, mas agora procuram pelos seus próprios esforços viver uma vida recta. Mas cada esforço dessa natureza fracassará. Jesus diz: "Sem Mim, nada podeis fazer." O nosso crescimento na graça, a nossa alegria, a nossa utilidade - tudo depende da nossa união com Cristo. É pela comunhão com Ele, diariamente, hora a hora - por permanecermos n'Ele - que devemos crescer na graça. Ele é não só o Autor, mas também o Consumador da nossa fé. É Cristo primeiro e último e sempre. Ele deve estar connosco, não só no começo e no final da nossa vida, mas em cada passo do caminho. David diz: "Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim: por isso, que Ele está à minha direita, nunca vacilarei." Salmos 16:8.

Tu perguntas: "Como devo permanecer em Cristo?" Da mesma maneira como O recebeste no princípio. "Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim, também andai n'Ele." Colossences 2:6. "O justo viverá pela fé." Hebreus 10:38. Tu deste-te a ti mesmo a Deus, para seres d'Ele completamente, para O servires e Lhe obedeceres, e tomaste Cristo como teu Salvador. Tu não podias expiar por ti mesmo os teus pecados ou mudar o teu coração; mas, ao te teres dado a ti mesmo a Deus, creste que Ele, por amor de Cristo, fez tudo isto por ti. Pela fé, tu tornas-te de Cristo, e pela fé tu deves crescer n'Ele - mediante dar e tomar. Deves dar tudo - o teu coração, a tua vontade, o teu serviço; dar-te a ti mesmo a Ele para obedeceres a todos os Seus requisitos; e tu deves tomar tudo - Cristo, a plenitude de todas as bênçãos, para habitar no teu coração, para ser a tua força, a tua justiça, o teu ajudador eterno - para te dar poder para obedeceres.

Consagra-te a ti mesmo a Deus pela manhã; faz disto a tua primeiríssima tarefa. Que a tua oração seja: "Toma-me, ó Senhor, como todo Teu. Deponho todos os meus planos aos Teus pés. Usa-me hoje no Teu serviço. Habita em mim, e permite que todo o meu trabalho seja feito em Ti." Isto é uma questão diária. Cada manhã, consagra-te a Deus para esse dia. Entrega-Lhe todos os teus planos, para serem executados ou não, segundo a Sua providência indicar. Assim podes diariamente colocar a tua vida nas mãos de Deus e, deste modo, ela será moldada mais e mais segundo a vida de Cristo.

Uma vida em Cristo é uma vida de paz. Pode não haver um êxtase de sentidos, mas deve haver uma confiança serena e permanentemente. A tua esperança não está em ti mesmo; está em Cristo. A tua fraqueza está unida à Sua força, a tua ignorância à Sua sabedoria, a tua fragilidade ao Seu permanente poder. Assim, tu não deves olhar para ti mesmo, nem deixar a mente demorar-se no eu, mas deves olhar para Cristo. Deixa a mente demorar-se no Seu amor, sobre a beleza e perfeição do Seu carácter. Cristo na Sua abnegação, Cristo na Sua humilhação, Cristo na Sua pureza e santidade, Cristo no Seu incomparável amor - este deve ser o tema da tua contemplação. É amando-O, imitando-O, dependendo inteiramente d'Ele, que tu deves ser transformado à Sua semelhança.

Jesus diz: "Estai em Mim." Estas palavras transmitem a ideia de paz, estabilidade, confiança. Outra vez Ele convida: "Vinde a Mim, ... e Eu vos darei repouso." Mateus 11:28. As palavras do salmista expressam o mesmo pensamento: "Descansa no Senhor, e espera pacientemente n'Ele." Salmos 37:7. E Isaías dá a certeza: "No sossego e na confiança estaria a vossa força." Isaías 30:15. Este repouso não se encontra na inactividade; pois no convite do Salvador a promessa de descanso está unida ao chamado para trabalhar: "Tomai sobre vós o Meu jugo, ... e encontrareis descanso." Mateus 11.29. O coração que mais plenamente descansa em Cristo será o mais fervoroso e activo no trabalho em favor d'Ele.

Quando a mente se demora no eu, está afastada de Cristo, a Fonte de força e vida. Por conseguinte há um esforço constante de Satanás para manter a atenção afastada do Salvador e assim impedir a união e comunhão da pessoa com Cristo. Os prazeres do mundo, os cuidados, as perplexidades e as tristezas da vida, as faltas dos outros, ou as tuas próprias faltas e imperfeições - para algumas destas ou todas, ele procurará desviar a mente. Não te deixes desviar pelos seus ardis. Muitas pessoas verdadeiramente conscienciosas, e que desejam viver para Deus, são frequentemente levadas pelo inimigo a demorar o pensamento sobre as suas próprias faltas e fraquezas, e assim, ao separá-los de Cristo, ele espera conseguir a vitória. Nós não devemos fazer do eu o centro, e condescender com a ansiedade e temor sobre se seremos ou não salvos. Tudo isto desvia a alma da Fonte da nossa força. Entrega a guarda da tua mente a Deus, e confia n'Ele. Fala e pensa em Jesus. Deixa o eu perder-se n'Ele. Afasta toda a dúvida, desvia os teus temores. Diz, como o apóstolo Paulo: "Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim." Gálatas 2:20. Descansa em Deus. Ele é apto para guardar aquilo que lhe confiaste. Se te abandonares nas Suas mãos, Ele te levará a seres mais do que vencedor por Aquele que te amou.

Quando Cristo tomou a natureza humana sobre si, Ele ligou a humanidade a Si mesmo por um laço de amor que não pode ser quebrado por poder algum, a não ser a escolha do próprio homem. Satanás apresentará constantemente engodos para nos induzir a quebrar este laço - para escolhermos separar-nos de Cristo. É aqui que precisamos de vigiar, esforçar-nos, orar, para que nada nos seduza a escolher outro mestre; pois nós somos sempre livres de o fazer. Mas mantenhamos os nossos olhos fixos em Cristo, e Ele nos preservará. Olhando para Jesus, estamos seguros. Nada nos pode arrebatar da Sua mão. Contemplando-O constantemente, "somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor." II Coríntios 3:18.

Foi assim que os primeiros discípulos obtiveram a sua semelhança com o querido Salvador. Quando esses discípulos ouviram as palavras de Jesus, sentiram a sua necessidade d'Ele. Eles procuraram-n'O, encontraram-n'O e seguiram-n'O. Estavam com Ele em casa, à mesa, no cenáculo, no campo. Eles estavam com Ele como alunos com o professor, recebendo diariamente d'Ele lições de santa verdade. Eles olhavam para Ele, como servos para o seu senhor, para aprenderem o seu dever. Esses discípulos eram homens "sujeitos às mesmas paixões que nós". Tiago 5:17. Tinham a mesma batalha a travar com o pecado. Precisavam da mesma graça, a fim de viverem uma vida santa.

Mesmo João, o discípulo amado, aquele que mais plenamente reflectiu a semelhança do Salvador, não possuía naturalmente essa amabilidade de carácter. Era não só altivo e ambicioso de honras, mas também impetuoso e ressentia-se quando era injuriado. Mas, à medida que o carácter do Divino Mestre lhe era revelado, ele via a sua própria deficiência e esse conhecimento tornou-o humilde. A força e a paciência, o poder e a ternura, a majestade e a mansidão que ele contemplava na vida diária do Filho de Deus, enchiam a sua alma de admiração e amor. Dia a dia o seu coração era atraído para Cristo, até que perdeu de vista o eu por amor ao Mestre. O seu temperamento rancoroso e ambicioso rendeu-se ao poder modelador de Cristo. A influência regeneradora do Espírito Santo renovou o seu coração. O poder do amor de Cristo operou uma transformação de carácter. Este é o resultado seguro da união com Jesus. Quando Cristo habita no coração, toda a natureza é transformada. O Espírito de Cristo, o Seu amor, suavizam o coração, subjugam a alma, e elevam os pensamentos e desejos para Deus e o Céu.

Quando Cristo ascendeu ao Céu, a sensação da Sua presença estava ainda com os Seus seguidores. Era uma presença pessoal, cheia de amor e luz. Jesus, o Salvador, que tinha andado, falado e orado com eles, que tinha falado de esperança e conforto aos seus corações, tinha, enquanto a mensagem de paz estava ainda nos Seus lábios, sido levado de junto deles para o Céu, e o som da Sua voz soava ainda nos seus ouvidos, enquanto a nuvem de anjos O recebia - "eis que Eu estou convosco, todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. Ele ascendera ao Céu na forma humana. Eles sabiam que Ele estava diante do trono de Deus, ainda como seu Amigo e Salvador; que as Suas simpatias não se tinham alterado; que Ele ainda Se identificava com a humanidade sofredora. Ele estava a apresentar perante Deus os méritos do Seu próprio sangue precioso, mostrando as Suas mãos e os pés feridos, em lembrança do preço que pagara pelos Seus remidos. Eles sabiam que Ele ascendera ao Céu para lhes preparar um lugar, e que viria outra vez e os levaria para junto de Si mesmo.

Quando se reuniram após a ascensão, os discípulos estavam ansiosos por apresentar os seus pedidos ao Pai em nome de Jesus. Em temor solene, eles prostraram-se em oração, repetindo a certeza: "Tudo o que pedirdes a Meu Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há-de dar. Até agora nada pedistes em Meu nome; pedi, e recebereis, para que a vossa alegria seja completa." João 16:23, 24. Eles estenderam a mão da fé cada vez mais alto com o poderoso argumento: "É Cristo quem morreu, ou, antes, quem ressuscitou de entre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós." Romanos 8:34. E o Pentecostes trouxe-lhes a presença do Consolador, de quem Cristo dissera: Ele "estará em vós." E Ele dissera mais: "Vos convém que Eu vá; porque, se Eu não for, O Consolador não virá a vós; mas, se Eu for, enviar-vo-l'O-ei." João 14:17; 16:7. Daí em diante, mediante o Espírito, Cristo devia habitar continuamente no coração dos Seus filhos. A Sua união com eles era mais íntima do que quando Ele estava pessoalmente com eles. A luz, o amor e o poder de Cristo, que neles habitava, revelavam-se através deles, de maneira que os homens, vendo-os, "se maravilharam; e tinham conhecimento que eles haviam estado com Jesus." Actos 4:13.

Tudo o que Cristo foi para os discípulos, Ele deseja ser para os Seus filhos hoje; pois naquela última oração, com o pequeno grupo de discípulos reunidos à Sua volta, Ele disse: "E não rogo somente por estes, mas, também por aqueles que, pela Sua palavra, hão-de crer em Mim." João 17:20.

Jesus orou por nós, e pediu que nós pudéssemos ser um com Ele, assim como Ele é um com o Pai. Que união é esta! O Salvador disse de Si mesmo: "O Filho, por Si mesmo, não pode fazer coisa alguma"; "O Pai, que está em Mim, é quem faz as obras." João 5:19; 14:10. Então, se Cristo habitar no nosso coração, Ele operará em nós "tanto o querer como o efectuar, segundo a Sua boa vontade". Filipenses 2:13. Nós trabalharemos como Ele trabalhou; manifestaremos o mesmo espírito. E assim, amando-O e habitando n'Ele, cresceremos, "em tudo, n'Aquele que é a cabeça, Cristo". Efésios 4:15.



«TODA  A  SABEDORIA  E  APTIDÃO  DO  HOMEM
NÃO  CONSEGUEM  PRODUZIR  VIDA  NO  MAIS  PEQUENO  OBJECTO  DA  NATUREZA.»


«NA  INCOMPARÁVEL  DÁDIVA  DO  SEU  FILHO,
DEUS  CIRCUNDOU  TODO  O  MUNDO  COM  UMA  ATMOSFERA  DE  GRAÇA  TÃO  REAL
COMO  O  AR  QUE  CIRCULA  AO  REDOR  DO  GLOBO.»


«UMA  VIDA  EM  CRISTO  É  UMA  VIDA  DE  PAZ.»


«SE  TE  ABANDONARES  NAS  SUAS  MÃOS,
ELE  TE  LEVARÁ  A  SERES  MAIS  DO  QUE  VENCEDOR  POR
 AQUELE  QUE  TE  AMOU.»