domingo, 25 de abril de 2010

1. O AMOR DE DEUS


Tanto a Natureza como a Revelação testificam do amor de Deus. O nosso Pai Celeste é a fonte da vida, sabedoria e alegria. Olhem para as coisas maravilhosas e belas da Natureza.
Considerem as suas maravilhosas adaptações às necessidades e felicidade, não só dos seres humanos, mas também de todas as criaturas vivas. A luz solar e a chuva, que alegram e refrescam a terra, os montes, os mares e as planícies, tudo nos fala do amor do Criador. É Deus quem supre as necessidades diárias de todas as Suas criaturas. Nas belas palavras do salmista:

"Os olhos de todos esperam em Ti, e Tu lhes dás o seu alimento a seu tempo. Abres a Tua mão, e satisfazes os desejos de todos os viventes." Salmos 145:15, 16.

Deus criou o homem perfeitamente santo e feliz; e a bela Terra quando saiu das mãos do Criador, não revelava vestígio algum de decadência ou sombra de maldição. É a transgressão da lei de Deus - a lei do amor - que tem acarretado a dor e a morte. Todavia, mesmo no meio do sofrimento que resulta do pecado, o amor de Deus é revelado. Está escrito que Deus amaldiçoou o solo por amor ao homem (Génesis 3:17). Os cardos e espinhos - as dificuldades e provações que tornam a sua vida árdua e inquieta - foram determinados para o seu bem, como parte do treino necessário, no plano de Deus, para o seu erguimento da ruína e degradação que o pecado ocasionou. O mundo, embora caído, não é só tristeza e miséria. Na própria Natureza existem mensagens de esperança e conforto. Há flores sobre os cardos, e os espinhos são cobertos com rosas.

"Deus é amor" está escrito sobre cada rebento que desabrocha, sobre cada haste de erva que cresce. Os amorosos passarinhos, enchendo os ares de música com os seus alegres cantos; as delicadas flores, de cores variadas, que, na sua perfeição, perfumam o ar; as altas árvores da floresta com a sua rica folhagem de verde vivo - todos testificam do cuidado solícito, paternal do nosso Deus e do Seu desejo de fazer os Seus filhos felizes.

A Palavra de Deus revela o Seu carácter. Ele próprio declarou o Seu infinito amor e compaixão. Quando Moisés orou: "Mostra-me a Tua glória", o Senhor respondeu: "Eu farei passar diante de ti toda a Minha bondade." Êxodo 33:18, 19. Esta é a Sua glória. O Senhor passou diante de Moisés e proclamou: "O Senhor, o Senhor Deus, misericordioso e gracioso, longânimo e abundante em bondade e verdade, mantendo a misericórdia em milhares, perdoando a iniquidade, a transgressão e o pecado." Êxodo 34:6, 7. Ele "é tardio em irar-se e de grande amabilidade" (Jonas 4:2), "porque Ele Se deleita na misericórdia" (Miqueias 7:18).

Deus tem ligado o nosso coração a Ele por inúmeros sinais no céu e na terra. Mediante as coisas da Natureza, e os mais profundos e ternos laços terrestres que o coração humano possa conhecer, Ele tem procurado revelar-Se a nós. Todavia, tudo isso pode apenas representar imperfeitamente o Seu amor. Embora todas estas evidências tenham sido dadas, o inimigo do Bem cegou a mente dos homens, de maneira que eles olhassem para Deus com temor; O julgassem como severo e imperdoador.

Satanás levou os homens a conhecerem Deus como um ser cujo atributo principal é a justiça implacável - credor duro e vingativo. Ele pintou o Criador como um ser que observa com olhos ciumentos para discernir os erros e as falhas dos homens, para que os possa ferir com os Seus juízos. Foi para remover esta sombra escura, ao revelar ao mundo o infinito amor de Deus, que Jesus veio viver entre os homens.

O Filho de Deus veio do Céu para manifestar o Pai. "Deus nunca foi visto por alguém; o Filho unigénito, que está no seio do Pai, esse O fez conhecer". João 1:18. "Ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho O quiser revelar". Mateus 11:27. Quando um dos discípulos fez o pedido: "Mostra-nos o Pai", Jesus respondeu: "Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe? Quem Me vê a Mim vê o Pai; e como dizes tu: mostra-nos o Pai?" João 14:8, 9.

Ao descrever a Sua missão terrestre, Jesus disse: o Senhor "Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos". Lucas 4:18. Este era o Seu trabalho. Ele ia por todo o lado fazendo o bem e curando todos os oprimidos de Satanás. Havia aldeias inteiras onde não se ouvia um único gemido de dor em nenhuma casa, pois Ele tinha passado por elas e curara todos os seus doentes. O Seu trabalho dava evidência da Sua unção divina. Amor, misericórdia e compaixão eram revelados em cada acto da Sua vida; o Seu coração enchia-Se de terna simpatia para com os filhos dos homens. Ele tomou a natureza do homem, a fim de poder compreender as necessidades do homem. Os mais pobres e os mais humildes não receavam aproximar-se d'Ele. Até mesmo as crianças pequenas eram atraídas para Ele. Elas gostavam de subir para os Seus joelhos e contemplar a Sua face pensativa e bondosa.

Jesus não suprimiu uma única palavra da verdade, mas proferia-a sempre com amor. Ele exercia o maior tacto, e ponderada e amável atenção, nas Suas relações com as pessoas. Ele nunca foi rude, nunca disse desnecessariamente uma palavra severa, nunca produziu dor desnecessária a uma alma sensível. Ele não censurava a fraqueza humana. Ele dizia a verdade, mas sempre com amor. Ele denunciava a hipocrisia, a descrença e o mal; mas havia lágrimas na Sua voz enquanto proferia as Suas censuras severas. Chorou sobre Jerusalém, cidade que Ele amava, que recusou recebê-l'O, ao Salvador, mas considerava os seus habitantes com terna simpatia. A Sua vida foi de abnegação e solícita consideração pelos outros. Cada pessoa era preciosa aos Seus olhos. Embora Se conduzisse sempre com dignidade divina, baixava-Se com o olhar mais terno para cada membro da família de Deus. Em todos os homens Ele via seres caídos, sendo a Sua missão salvá-los.

É assim o carácter de Deus revelado na vida de Cristo. Este é o carácter de Deus. É do coração do Pai que as correntes da compaixão divina, manifestadas em Cristo, fluem para os filhos dos homens. Jesus, o terno, compassivo Salvador, era Deus "manifesto na carne". I Timóteo 3:16.

Foi para nos redimir que Jesus viveu, sofreu e morreu. Ele tornou-Se "um Homem de Dores", para que pudéssemos ser participantes da alegria eterna. Deus permitiu ao Seu amado Filho, cheio de graça e verdade, vir de um mundo de indescritível glória, a um mundo manchado e afligido pelo pecado, escurecido com a sombra da morte e da maldição. Ele permitiu-Lhe deixar o seio do Seu amor, a adoração dos anjos, para sofrer vergonha, insulto, humilhação, ódio e morte. "O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele e pelas Suas pisaduras fomos sarados." Isaías 53:5. Contemplem-n'O no deserto, no Getsémani, sobre a cruz! O imaculado Filho de Deus tomou sobre Si mesmo o fardo do pecado. Aquele que tinha sido um com Deus, sentiu no Seu íntimo a terrível separação que o pecado faz entre Deus e o homem. Isto fez brotar dos Seus lábios o angustiante clamor: "Deus Meu, Deus Meu, porque Me desamparaste?" Mateus 27:46. Foi o fardo do pecado, o sentimento da sua terrível enormidade, da separação que ele causa entre a pessoa e Deus - foi isto que despedaçou o coração do Filho de Deus.

Mas este grande sacrifício não foi feito a fim de criar, no coração do Pai, amor pelo homem, nem para O tornar disposto a salvar. Não, não! "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigénito." João 3:16. O Pai ama-nos, não por causa da grande intercessão, mas Ele providenciou a intercessão porque nos ama. Cristo foi o meio através do qual Ele pôde derramar o Seu infinito amor sobre um mundo caído. "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo." II Coríntios 5:19. Deus sofreu com o Seu Filho. Na agonia do Getsémani, na morte do Calvário, o coração de Infinito Amor pagou o preço da nossa redenção.

Jesus disse: "Por isto o Pai Me ama, porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la." João 10:17. Isto é, "o Meu Pai tem-vos amado de tal maneira que Ele até Me ama mais por dar a Minha vida para vos redimir. Ao tornar-Me o vosso Substituto e Fiador, ao dar a Minha vida para tomar as vossas fraquezas, as vossas transgressões, sou querido do Meu pai; pois pelo Meu sacrifício, Deus pode ser justo, e todavia ser justificador daquele que crê em Jesus."

Ninguém senão o Filho de Deus podia realizar a nossa redenção; pois só Aquele que esteve no seio do Pai O podia revelar. Unicamente Aquele que conhecia a altura e a profundidade do amor de Deus podia manifestar esse amor. Apenas o infinito sacrifício feito por Cristo em favor do homem caído podia expressar o amor do Pai para com a humanidade perdida.

"Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho Unigénito." Ele deu-O não só para viver entre os homens, para carregar os seus pecados, e morrer em sacrifício por eles. Ele deu-O à raça caída. Cristo devia identificar-Se com os interesses e necessidades da humanidade. Ele, que era um com Deus, ligou-Se com os filhos dos homens por laços que não devem nunca quebrar-se. Jesus "não Se envergonha de lhes chamar irmãos." Hebreus 2:11. Ele é o nosso Sacrifício, o nosso Advogado, o nosso Irmão; portanto, a nossa forma humana perante o trono do Pai, e através das eras eternas é um com a raça que Ele - o Filho do homem - redimiu. E tudo isto para que o homem pudesse ser erguido da ruína e degradação do pecado, para que pudesse reflectir o amor de Deus e participar da alegria da santidade.

O preço pago pela nossa redenção, o infinito sacrifício do nosso Pai Celeste em dar o Seu Filho para morrer por nós, deveria dar-nos elevadas concepções daquilo que podemos tornar-nos mediante Cristo. Depois do inspirado apóstolo João ter percebido a altura, a profundidade e a largura do amor do Pai para com a humanidade, ele encheu-se de adoração e reverência; e, incapaz de encontrar linguagem adequada para expressar a grandeza e ternura deste amor, apelou ao mundo para O contemplar. "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." I João 3:1. Que valor isto coloca sobre o homem! Pela transgressão, os filhos do homem tornaram-se súbditos de Satanás. Pela fé no sacrifício de expiação de Cristo, os filhos de Adão, podem tornar-se filhos de Deus. Ao tomar a natureza humana, Cristo eleva a humanidade. Homens caídos são colocados onde, pela união com Cristo, eles se podem tornar, na verdade, dignos do nome "filhos de Deus".

Este amor não tem paralelo. Filhos do Rei Celestial! Preciosa promessa! Tema para a mais profunda meditação! O incomparável amor de Deus por um mundo que não O amava! O pensamento tem um poder subjugante sobre a pessoa e submete a mente cativa à vontade de Deus. Quanto mais estudarmos o carácter divino à luz da cruz, mais veremos misericórdia, ternura e perdão unidos com equidade e justiça, e mais claramente discerniremos evidências inumeráveis de um amor que é infinito e de uma terna compaixão que ultrapassa a simpatia e o amor de uma mãe ansiosa por um filho desviado.


«HÁ  FLORES  SOBRE  OS CARDOS,
E  OS  ESPINHOS  SÃO  COBERTOS  COM  ROSAS.»


«O  PAI  AMA-NOS,  NÃO  POR  CAUSA  DA  GRANDE  INTERCESSÃO,
MAS  ELE  PROVIDENCIOU  A  INTERCESSÃO  PORQUE  NOS  AMA.»


«ELE  TORNOU-SE  "UM  HOMEM  DE  DORES",
PARA  QUE  PUDÉSSEMOS  SER  PARTICIPANTES
DA  ALEGRIA  ETERNA.»